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Publicado: Terça-feira, 10 de julho de 2012

Amizade

Amizade mesmo, como seria ela definida, num mundo em que tudo tanto se confunde, se falseia e se mistura?

A amizade autêntica, muito rara, se constata quando como que a pessoa se divide, tem desapego de muito do seu, em favor do semelhante. Entende até como direito do outro receber a partilha, a ponto de aquele nem precisar pedir porque seu anseio ou necessidade serão percebidos e até adivinhados.

Um vez que amizade com as qualificações que ela encerra não anda solta por aí, oportuno dizer o quanto se perde com o oposto dela, os mal entendidos e os entreveros mil que a vaidade ferida ou a inveja incontrolada, geram,  a cada passo.

Não confundir a amizade, porém, com o tratamento lhano e natural com que em geral as pessoas se cumprimentam ou conversam casualmente, na vida social. Entre desconhecidos, muito lógico surja um ar de simpatia entre eles. Isso, por ora, ainda não é amizade, embora essas circunstâncias possam vir a ser o nascedouro de muitas relações que mais tarde se solidificam.

A fragilidade da convivência fraterna, de seu lado, mostra-se como um fato comum. Quantos relacionamentos que pareceriam indestrutíveis não ganham, na mesma proporção, expressões de rancor, mágoa ou ressentimento? Sequer familiares às vezes, irmãos até, se desencontram na vida.

Oportuno considerar quais seriam as pessoas próximas e chegadas a cada um. Na roda desses amigos consagrados, poderão surgir mais nomes, pessoas igualmente boas, cuja intimidade ainda não foi experimentada. Quantas vezes não se acaba de descobrir novo e excelente amigo em alguém que há muito tempo já estava próximo e era pouco notado?

Uma certa reserva em relação a quem se ufana de não saber contar quantos amigos tem, tantos seriam eles. A ninguém será possível ser amigo de muita gente, à falta de tempo e oportunidade de se conviver simultânea ou mais detidamente com todos e ainda mais em clima de afeição e amizade.

Não se vá negar por isso a denominação de amizade àquelas relações amenas, embora de pouca frequência mútua. Não chegam, porém, a se constituir em algo que comporte a consequente prática do carinho e solidariedade a toda prova, num caráter muito especial.

Também nem merece comentário a amizade que se finge, mal escondida atrás de meros interesses ou conveniência.

Mera filosofia de leigo, esta explanação vai encontrar adeptos que talvez aceitem a digressão, como certamente a discordância de outros que não encampam estas ideias. Faz lembrar um teste essencial na aferição da amizade, de que teor ou profundidade ela é, o de continuar amigo de quem pense diversamente de você.

Haja, pois, a decisão de se estar atento e saber prezar os amigos e estender esse círculo, sempre mais. Com igual finalidade, que tal se todos se curvassem,  culpados e não culpados, ressentidos ou não, ao gesto altivo de estender sua mão a pedir que o amigo magoado ou distante volte.

Reatar amizades perdidas, a maneira mais nobre de se viver em paz.

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