Amparo, saudosa
Oxalá, a cidade de Amparo, uma menina nos seus ainda duzentos anos, saiba preservar o admirável casario, as centenas de casas em estilo colonial ou assemelhado.
Haja definição e ação de seu próprio povo e autoridades, a todo o tempo, para impedir a descaracterização de seu visual de extrema singeleza, o modo certo, contudo, de se espelhar beleza verdadeira.
Faz gosto percorrer suas ruas, tanto as do centro como adjacências e mesmo outras mais afastadas, pois de um modo geral por todos os cantos tais edificações têm sido ciosa e caprichosamente resguardadas. Portas altas, janelas grandes, soleiras e adornos externos, conferem um agradável convite de retorno ao seu passado. Aliás, dois séculos de existência, lhe asseguram o direito de ser ainda vista como jovem e bela.
Somente agora, nos últimos anos, cercada de montanhas e plantada como que internamente num vale fechado, é que se percebe alguma expansão morros acima. Nesses pontos, sim, as construções se enquadram nos modelos mais recentes e de livre criação.
Amparo fala de perto aos sentimentos da gente, morador ali pelo prazo de exatamente um ano, janeiro a dezembro de 1961. Local de posse como funcionário do IAPI, instituto dos industriários, até que a malfadada ditadura procedesse à fusão da previdência num único instituto, o INPS confuso de hoje.
Nesse mesmo ano ocorreu a formatura, após o terceiro ano da Escola Técnica de Comércio de Amparo, os dois primeiros cumpridos em Itu mesmo.
Retorne-se, contudo, ao tema central, o de uma comuna que tem sabido se desenvolver sem postergar o relicário de sua cultura e de sua agradável aparência urbana.
Cumpra-se uma andança ao léu, de rumo incerto, de máquina em mãos, a fotografar as residências que vão despontando à sua frente e então vai compreender e concordar com o quanto de agradável se tornam essas horas e esse passeio. Não se incomode se demorar, porque em determinado momento, por serem tantas as imagens cativantes ao seu alcance, nem tudo se pode aprisionar nas fotos.
Afirmou-se ali atrás que existem centenas dessas casas típicas de uma época e, realmente, isso é a pura verdade. Autêntica volta ao passado, embora se trate, Amparo, de ser uma personagem ainda jovem. Faça-se uma comparação quimérica, sob o aspecto urbano, em que por encanto duzentos, para uma cidade, possam equivaler a vinte anos somente. Uma mocinha, de pleno direito.
Com população estimada em cerca de setenta mil habitantes, considera-se pronta e feita. Afirmam-se, seus moradores, satisfeitos com o que tem ocorrido, inclusive porque já existem nela cinco indústrias de ponta, garantidoras de emprego, em ação conjunta com o seu comércio, em nada espalhafatoso, mas proporcional satisfatoriamente ao atendimento dos habitantes. Tudo, pois bem acabado e coordenado.
Bom saber que já existe crônica neste mesmo assunto, Amparo. Mais de uma até.
É que nesta semana, de volta de outras plagas, quedou-se o escriba um dia todo em Amparo, sob comovente evocação, a se lembrar dos tempos áureos de sua juventude.
O que dói e punge fundo é rememorar que a Itu quatrocentona deitou por terra seu admirável parque arquitetônico, a ponto de que o que lhe resta hoje, Largo da Matriz e outros prédios dispersos aqui e ali, pouquíssimos, seria muita história para ser contada.
Não adianta lamentar nem chorar. Essa falha é agora irreversível.
Uma cidade híbrida quanto ao seu visual, sem termos adequados e técnicos que a caracterizem.