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Publicado: Sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Analogias

Gosto de política. Explico: gosto de ler sobre ela, acompanhar seus capítulos nas diferentes esferas. Seja municipal, regional, nacional ou internacional, é sempre bom estar informado sobe o que acontece mundo afora. Nas primeiras aulas de Sociologia durante a faculdade, aprendemos que o ser humano é um animal político, feito para interagir com seus pares e dirigir seu próprio destino.
 
De certa forma, a política é a arte de dirigir o destino de todos. Os mandatários da nação conduzem municípios, estados e países pensando em todas as camadas da população. Se assim não é, deveria ser. Pelo menos a teoria é esta. A questão de hoje é: seria possível fazer uma analogia entre os sistemas políticos e a nossa espiritualidade?
 
Aos mais afoitos, cabe ressaltar que o presente artigo é apenas um exercício filosófico. Como sempre, não tenho segundas intenções quando tenho tantas primeiras intenções a me ocupar. A idéia é sempre partilhar com leitores e leitoras um pouco das idéias que circulam pela minha mente. Vamos falar de política e de espiritualidade, mas sem misturar alhos com bugalhos. As idéias aqui descritas são pessoais e intransferíveis, fruto de mera especulação.
 
A democracia deve ter sido criada por Deus. Para o Criador, todos são iguais. Diante do poder divino somos frágeis, fracos, efêmeros. O Pai nos vê todos como filhos, indistintamente. Para Ele não há negros ou brancos, ricos ou pobres, judeus ou gregos. Esta é uma das bases da democracia, na qual todos são iguais. É uma das bases das leis e da Justiça também, pelo menos na parte teórica.
 
O pecado também é democrático. Atinge a todos, sem exceção. Todos pecam. Pecadinho ou pecadão, ninguém fica livre. Pois "o justo peca sete vezes ao dia" e aquele que diz não ter pecado já está cometendo-o involuntariamente, por soberba. Graças ao bom Pai, o perdão dos pecados também é concedido amorosa e democraticamente. E sem nenhuma burocracia (que deve ter sido criada no Inferno), protocolos ou papeladas: basta o arrependimento sincero, a confissão e a conversão.
 
Nossa relação com Deus possui um quê de regime monárquico, é mais do que óbvio. Do alto de toda a sua grandeza, a majestade divina paira sobre nós, os súditos. Assim como nas monarquias absolutistas, não podemos sequer pensar em nos comparar ao Rei. Somos nada perto Dele. Seremos sempre vassalos, servos, necessitados de seus cuidados e atenções.
 
Ao contrário da monarquia existente na Idade Média, nossa vassalagem em relação a Deus é benéfica. Pois não há nada melhor do que servir ao Rei dos Reis. Ele não nos castiga, mas nos preserva. Não nos pune, mas nos perdoa. Não nos engana, mas nos aconselha. Ele não nos mata, mas nos concede a verdadeira vida que dura para sempre.
 
O sistema parlamentarista também pode ser abordado. Os membros do clero seriam como representantes saídos do meio do povo para tratar diretamente com o Rei. É deles o múnus, a autoridade, a obrigação de conduzir-nos de acordo com as leis divinas. Ao contrário do parlamentarismo democrático, no qual o povo vota e escolhe seus representantes, aqui os escolhidos são chamados diretamente por um Deus que convida: "Vem e segue-me!".
 
O presidencialismo pode ser verificado em um outro nível, na vida dos Movimentos, Pastorais e Comunidades, onde os coordenadores, líderes e dirigentes são escolhidos através de alguma eleição interna. É claro que os eleitos têm a obrigação de estar em sintonia com a Igreja e o clero. Geralmente são pessoas que se destacam entre a comunidade, por sua dedicação e exemplo de vida.
 
Não podemos esquecer do comunismo. No aspecto humano é um sistema controverso, belo e perigoso na teoria, mais perigoso ainda na prática. Alguns costumam abrandá-lo um pouco chamando-o de socialismo. Do comunismo, já sabemos o fracasso que vem. As injustiças são incontáveis. Do socialismo o mundo não viu mais do que algumas tentativas, ainda não plenas. Se há um ponto em que convergem, é o sentido de suas nomenclaturas: colocar tudo em "comum", partilhar entre a "sociedade".
 
Há quem diga que Jesus era comunista, o que é um absurdo sem tamanho. Sabemos que Jesus era avesso a rotulações, não gostava dos "ismos" e "istas" que tanto inventamos. Mas uma coisa ele nos ensinou: a abrir mão do materialismo e da ganância, repartindo o que possuímos entre os necessitados, vivendo em comum na simplicidade que vem de Deus e socializando entre todos o que for necessário para o bem-estar geral.
 
Nestas analogias só não há espaço para a ditadura, pois ela pressupõe o uso da força do mais forte contra o mais fraco. Mesmo sendo infinitamente mais poderoso que nós, Deus não nos obriga a nada. Deus não manda, pede. Não obriga, convida. Não aguarda, espera. A única coisa que Deus não pode nos obrigar, é a amá-Lo, pois isso depende inteiramente de nós. Ele nos deu o livre-arbítrio, prova de amor e de confiança. Amar a Deus e confiar nele: eis o melhor sistema!
 
Amém.
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