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Publicado: Domingo, 6 de abril de 2008

Ao Entardecer (Nas Grandes Cidades)

Ao entardecer, na cidade grande, poucas semanas após findar o controvertido horário de verão, volta-se para casa percorrendo-se ruas e avenidas sob o mormaço do ensolarado estio. É sempre a mesma rotina de filas de carros com lento rolar, a alegria reaparecendo na tranqüila chegada ao lar (o lar é o meu mundo).
 
Vez ou outra, quando acontece, já nos encontramos em casa, no plácido entardecer, usufruindo a suave brisa vespertina, passando a reflexões de temas, consubstanciados em pensamentos assim materializados ou questionados: por que os momentos eufóricos de felicidade não podem ser mais duradouros, rechaçados para bem distantes aborrecimentos e desgostos que nos afligem?
 
Então, relembramos épocas passadas, a tranqüilidade dos tempos em que as modernas invenções (sobretudo a televisão) e o terrível vício das drogas não integravam o nosso cotidiano. O viver era apetecido, compartilhado em plena suportabilidade por pobres e ricos, a esporádica criminalidade compreendida ainda não tão corriqueira e difundida.
 
Chegando o progresso, caracterizado em primeiro plano com a sistemática doutrinação de um mundo sem Deus, espalhada por todos os cantos pelas torrentes midiáticas, alcançamos o patamar da irreprimível violência! Hoje nos encontramos como baratas tontas fugindo por todos os lados porque, incapacitados de tomar eficientes e decisivas atitudes, temos de suportar o domínio do mal! Não vejo como, neste espaço, esmiuçar e indicar soluções para o tema ventilado.
 
Acredito que o Pe. Vieira, há cerca de 400 anos, com seu exuberante e inigualável talento, de maneira magistral e indiretamente, enfoca esta reflexão sugerindo o que precisa ser feito, ou seja, só palavras não resolvem problemas. Há necessidade de obras. Transcrevo:
 
“Antigamente convertia-se o mundo, hoje porque não se converte ninguém? Porque hoje pregam-se palavras e pensamentos, antigamente pregavam-se palavras e obras. Palavras sem obras são tiros sem bala; atroam, mas não ferem. Para falar ao vento bastam palavras; para falar ao coração são necessários obras. As palavras ouvem-se, as obras vêem-se; as palavras entram pelos ouvidos, as obras entram pelos olhos, e a nossa alma rende-se muito mais pelos olhos que pelos ouvidos.
 
No céu ninguém há que não ame a Deus, nem possa deixar de O amar. Na terra há tão poucos que O amem, todos O ofendem... A razão é porque Deus no céu é Deus visto; na terra é Deus ouvido. No céu entra o conhecimento de Deus à alma pelos olhos: videmus eum sicut est; na terra entra-lhe o conhecimento de Deus pelos ouvidos: fides ex auditu; e o que entra pelos ouvidos crê-se, o que entra pelos olhos necessita.(Sermões, vol. I, pgs.14, 15, Lello e Irmão editores 1959). 
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