Após a Cruz e o Sepulcro
O tratamento dado a Cristo representa o ato mais desumano, ingrato e covarde da história. É claro que, em graus menores, vem se repetindo... Numa prova de que o ser humano ainda precisa muito de conversão e ainda reluta em aceitar os planos de Deus para sua vida.
É o espelho de uma sociedade insatisfeita, egoísta e gananciosa, que vê no outro um concorrente e não um semelhante. Uma sociedade violenta que, em vista dos interesses ameaçados, não importa de que espécie, quer afastar ou mesmo “eliminar” seus obstáculos...
O tratamento dedicado a Cristo revela requinte de crueldade incompreensível. Não que o ser humano seja bonzinho. Embora criado por Deus com amor e para o amor, para a bondade, tem-se comportado como um animal violento, sem paralelo com os próprios animais selvagens.
O acontecido revela a infidelidade do povo de Deus: esquece tudo que viu, ouviu e recebeu e abandona Jesus na mão do sistema dominante, interesseiro e injusto.
Entretanto, uns poucos e fiéis amigos permaneceram ao seu lado mesmo depois de morto e cuidaram para dar ao corpo do Senhor um destino digno. Não merecia acabar numa cruz, muito menos permanecer lá. Era preciso libertar esse corpo da cruz após cumprir fielmente a Vontade do Pai: resgatar, pelo sacrifício de seu Filho, todos os outros filhos amados que estavam perdidos.
Teve um sepultamento honrado, temporário, contudo. Terminada sua missão humana, retoma sua dimensão divina, ressuscita. Agora, dispensou a ajuda humana, bem-vinda para descer seu corpo inerte da cruz. Podia fazê-lo, mesmo antes da morte, mas aguentou até o fim, mesmo diante de tantos desafios, insultos e blasfêmias.
O corpo do Senhor, depositado amorosamente no sepulcro estava livre dos algozes. Livre da ridícula coroa de espinhos a macular sua face, livre dos pregos que imobilizavam seus braços que a tantos acolheu.... E seus pés que tanto caminharam em direção aos necessitados. Torna-se glorioso e volta ao Pai.
Mas, como Deus, fica conosco em Espírito e Verdade, como Vida e Caminho. Venceu a morte. Continua nos indicando quem é verdadeiramente o ser humano concebido pelo Criador, e para que viemos. Continua nos mostrando o que é a vida, a diferença que pode fazer o Amor entre os homens.
Com sua Vida, Paixão, Morte, mostrou ao mundo o que trazem a maldade, o pecado e a vida afastada de Deus. Uma vida onde falta o essencial: o amor, a compreensão a solidariedade, a compaixão. Apresentou-nos um jeito novo de viver.
Com sua Ressurreição, mostrou-nos que a morte já não tem a última palavra; devolveu-nos a esperança: a vida não acaba aqui, o nosso futuro é o céu ao lado do Pai, dos Santos, dos amigos...
E o nosso mundo? Infelizmente está na mesma. Parece que aquilo vivido há dois mil anos não passou de um espetáculo. Embora revivido anualmente, até comove, mas... e os frutos necessários de uma santa conversão?
Enquanto isso, a Paixão do Senhor é experimentada por tantos irmãos nossos, vítimas de condenações injustas, açoites, perseguições, exclusões e “crucifixões”. Precisam de nós, de alguém que os ajude a “descer da cruz”, que lhes devolva a vida e a dignidade, antes que seja tarde. É preciso livrá-los dos “sepulcros” do ódio, da indiferença, do abandono.
Páscoa. O homem vem preenchendo sua vida com tantas ocupações e não tem tempo para cuidar de si, dos valores humanos e espirituais. Corre o risco de ter sua vida esvaziada. Épocas especiais, fortes em ensinamentos, como a Páscoa e o Natal, estão-se tornando cada vez mais comerciais que religiosas. Precisamos assimilar que Cristo é a nossa Páscoa, nossa libertação do pecado, das misérias humanas e da morte eterna.
Páscoa, vida nova. Cristo ressuscitou e está vivo em nosso meio, Aleluia! Espera, incansavelmente, um encontro transformador com cada um de nós, não na Cruz, porque já não está mais lá, nem no sepulcro, igualmente vazio, mas especialmente na comunhão eucarística e na comunhão com os irmãos.
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