Publicado: Sexta-feira, 22 de junho de 2007
Arqueologia Histórica e a Fábrica de Ferro Ipanema
A presença de um empreendimento destinado à exploração e produção de ferro em meados do século XVI, no morro de Araçoiaba localizado no interior da área da Floresta Nacional de Ipanema, entre as cidades de Araçoiaba-SP e Sorocaba foi objeto de estudo desde o século XVIII, quando Pedro Taques de Almeida Paes Leme (1714-1777) deu as primeiras notícias sobre as minas de ferro do morro de Araçoiaba e a produção de ferro a partir do minério ali encontrado, pelo bandeirante Afonso Sardinha e seu filho mameluco do mesmo nome que, segundo este autor, foram os descobridores, no final do século XVI, de ouro de lavagem, prata e, na Biraçoiaba, no sertão do rio Sorocaba, do minério de ferro.
Entre os anos de 1980-1989, a área indicada como tendo sido o local dessas primeiras experiências metalúrgicas foi objeto de estudo para a realização de uma pesquisa arqueológica, coordenada pela arqueóloga Margarida Davina Andreatta. A área pesquisada recebeu a denominação de Sítio Arqueológico Afonso Sardinha, cujos resultados provenientes daquela escavação, formaram a base documental para a elaboração da Tese de Doutoramento, de minha autoria e orientada pela referida arqueóloga, intitulada: Arqueologia de uma Fábrica de Ferro: morro de Araçoiaba, séculos XVI-XVIII¸ defendida em março de 2007, pelo Programa de Pós-Graduação do Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo.
A partir da análise das evidencias arqueológicas que resultaram da pesquisa de campo, associadas aos conhecimentos da Arqueologia Histórica, da História e da História da Técnica e da Ciência, bem como, análises laboratoriais de artefatos, permitiram confirmar que a área evidenciada pela pesquisa arqueológica corresponde a um campo de exploração e produção de ferro que datado pelo Método da Termoluminescência, comprova que o Sítio Afonso Sardinha é o primeiro sítio histórico paulista datado como sendo do século XVI; que a ruína da edificação encontrada corresponde a instalação de uma fábrica de ferro que utilizava a energia hidráulica como força motriz para a produção e, que cuja planta se ajusta aos arranjos de espaço produtivo de ferro típicos de modelos encontrados nas áreas de mineração e metalurgia da Península Ibérica nos séculos XVI-XVII, notadamente aquele desenvolvido na região basca; os vestígios dos fornos de fundição encontrados indicam que se tratava de fornos do tipo baixo, nos quais se produziam ferro pelo emprego do método direto, os únicos aplicados no Brasil até o início do século XIX, quando foram construídos os primeiros altos-fornos para a instalação da Real Fábrica de Ferro de São João do Ypanema. O produto final nestes fornos era um ferro em estado pastoso ou esponja que não permitiam serem moldados e sim produzir artefatos e instrumentos com a utilização do trabalho de forja.
A Tese: Arqueologia de uma fábrica de ferro : morro de Araçoiaba séculos XVI-XVIII.
Disponível em: http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/71/71131/tde-25062007-151536/pt-br.php.
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