As alianças
Depois de percorrer de ponta a ponta o calçadão junto à praia, remoendo seus grilos, Alessandra sentou-se em um banco e, mais uma vez, lembrou tudo o que vinha lhe acontecendo.
Silas e ela foram namorados muitos anos. Ela nem sabia dizer ao certo quando começou o romance, pois, filhos de famílias amigas, conviveram desde crianças, cresceram juntos, muito amigos e acabaram transformando essa amizade em namoro.
Silas sempre afirmava que não pretendia casar-se nunca, que casamento era uma fria, etc.
Ela também prezava muito a sua liberdade e achava muito bom manter um relacionamento sem maiores compromissos.
Quando Silas foi trabalhar em uma cidade distante, começaram os problemas.
No começo ele vinha vê-la todos os fins de semana, depois começou a achar cansativo e deixou para os fins de semana prolongados, depois começou a alegar que precisava visitar os pais em outra cidade e os encontros foram espaçando.
Quando Alessandra ligou para ele e a secretária atendeu, não sabia bem por que, sentiu-se ameaçada. Seu sexto sentido lhe dizia que essa garota perto do Silas era um perigo.
E tinha razão. Ele começou a ficar cada vez mais frio com ela e começaram a desentender-se com muita freqüência.
Sempre que brigavam, era ele que procurava para fazer as pazes, mas, a última vez ele não procurou e ela depois de algum tempo, aflita, resolveu ligar para ele.
E veio a bomba!
Ele disse a ela que estava apaixonado por outra, pensando seriamente em se casar. Que sempre gostou dela, mas não tinham sido feitos um para o outro, que casamento nunca estivera em seus planos, etc. etc.
Alessandra ficou desolada. Apesar de ele viver afirmando que não queria casar-se ela sabia que um dia ele ia querer ter o seu lar, seus filhos, pois era muito "família" gostava de crianças, e tal.
Não tinha dúvidas de que quando esse dia chegasse ela seria a escolhida. A idéia a agradava, mas não entusiasmava muito. Queria adiar o mais possível.
E agora o perdera para aquela secretariazinha sem graça!
- Que ódio!
Mexeu o pé, nervosamente embaixo do banco e tocou em algo, uma bolsa de mulher.
- Poxa! Será que a descuidada derrubou a bolsa sob o banco e nem percebeu?
Quando pegou, porém, viu que não fôra assim. A bolsa estava aberta e vazia.
Um roubo! Provavelmente o ladrão levou o que tinha dentro e jogou fora a bolsa.
Mas, olhando melhor viu ao fundo um estojinho de jóia, com o selo de uma conhecida joalheria da cidade. Abriu e viu um par de alianças.
Por que estariam as alianças dentro da bolsa e não nos dedos?
Certamente porque ainda não tinham se casado. Agora ela perdeu as alianças e ia ser um transtorno.
Sem querer admitir, Alessandra sentia uma inexplicável alegria. Essa moça devia estar bem aborrecida com a perda das alianças. Bem feito! Por que para os outros as coisas tinham que dar sempre certo e para ela, não?
- Ela que compre outras. Grande coisa! Ela não vai casar-se? Ser feliz?
Tirou as alianças do estojo e leu no seu interior Victor e Luma.
Por que será que as alianças estavam com ela? O normal era o noivo levá-las a Igreja, ou será que iam usar na mão direita durante o noivado? Que coisa mais careta!
Será que foi ela que comprou as alianças?Tudo é possível, do jeito que os homens são, hoje em dia, tão sem brio! Esse casamento já ia começar mal.
Mas Alessandra tinha que admitir que estava com inveja da Luma, mesmo sem conhecê-la e apesar de todas as suas apressadas deduções.
Colocou a aliança em seu dedo anelar direito e imaginou que Silas a tivesse pedido em casamento e a aliança tivesse sido colocada num momento bem romântico.
Passou para a mão esquerda e imaginou como seria estar casada com ele, criando os seus filhos, envelhecendo juntos...
Voltou para casa ainda com a aliança no dedo e, então, pôs-se a imaginar que fosse ela a noiva do Victor. Como seria ele? Bonitão? Romântico? Simpático? Alegre?
À noite, foi para a cama ainda envolvida com seus pensamentos, uma espécie de brincadeira de faz de conta.
Na manhã seguinte não se lembrava do que havia sonhado durante a noite, mas estava decidida a deixar o Victor e a Luma, o Silas e a secretária em paz e tocar a sua vida pra frente, buscar a sua própria felicidade.
Luma chega em casa chorando. A mãe assusta-se ao ouvi-la contar que fora assaltada. Perdera a bolsa nova com todos seus documentos, seu dinheiro e, o pior de tudo, as alianças que tinha ido com o noivo buscar no joalheiro e que estavam com ela porque ele foi direto para o seu trabalho e ficou com medo de perdê-las.
- E agora, Mamãe? Perdi todo o meu dinheiro, terei que tirar todos os meus documentos e o pior de tudo, perdi as alianças. - Como vamos fazer amanhã a festa de noivado sem as alianças de compromisso na mão direita?
A mãe, naturalmente aborrecida, é claro, procura confortá-la:
- Ainda bem que ele não lhe fez nenhum mal. Perdas materiais a gente recupera.
- De que jeito? Como vamos arranjar outras alianças de hoje para amanhã?
- Com alianças ou sem alianças você vai ficar noiva e nós vamos comemorar.
Depois, para o casamento, vocês providenciam outras.
Quando falou com o Victor a sua reação foi semelhante à de sua mãe:
- Não fique tão aborrecida. Lembre-se de que podia ter sido muito pior.
Luma estoura:
- Muito pior! Porque todo mundo acha que eu merecia o pior e tenho que agradecer a Deus por ter perdido só coisas materiais que me farão uma enorme falta?
No dia seguinte, Luma continuava triste. Todo o preparativo para a festa de noivado logo mais a noite perdera toda a graça para ela.
Victor contemporizou:
- Vamos a joalheria ver se conseguimos comprar outras.
E foi então que o telefone tocou.
Era da joalheria. Avisavam que as suas alianças foram encontradas e estavam lá a sua disposição.