As pedras dentro
O rapaz estava dentro do celular desde que embarcaram; seus olhos, secos, não se desviavam da tela. A ginga suave do trem panorâmico trazia as mais belas paisagens do mundo e suas ruínas Incas, suas águas, as geleiras querendo escorregar das montanhas, o poético equilíbrio das rochas e os impressionantes verdes encostados na Cordilheira dos Andes. O comissário passou lhe oferecendo o serviço de bordo e, quando levantou o semblante para declinar com a educação francesa que lhe era raíz, deu-se ao encontro dos olhos mais místicos que já vira. Foi devorado por alguns segundos até que caiu lento no limbo da Pacha Mama, suspenso pela silhueta que os primeiros raios solares infligia. Encostou a cabeça no assento e a encarou fixamente. Não correspondido, tossiu alto; depois empurrou o copo vazio no chão; mais tarde se espreguiçou escandalosamente; e se esvaiu. Quando o comissário veio dizendo que Águas Calientes se avizinhava ele já havia desistido, então olhou para fora se enamorar como ela.