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Publicado: Sexta-feira, 10 de setembro de 2010

As pequenas coisas...

Quem não é feliz no pouco, nem no muito.

A vida humana testemunha pequenas e grandes obras. Encantam-nos, no entanto, muito mais os grandes feitos, os feitos heróicos. A sociedade os exalta e acabamos condicionados a essa mentalidade. Desvalorizamos o dia a dia, a pequena rotina de que é feita a vida da maioria das pessoas. Poucos são atraídos pela simplicidade, pela humildade.

Lembramos aqui a dona de casa cuja vida se preenche de coisas pequenas que se repetem ao longo dos dias: o mesmo chão a ser varrido, a cama a ser arrumada, a roupa a ser lavada, a comida. Quem valoriza? Fosse por isso desistiria. Mas o que seria de nós se isso acontecesse? Felizmente ela segue firme, porque escolheu a humildade como bandeira de vida, porque sabe o valor do seu trabalho, porque coloca nele muito amor. Não espera gratidão ou reconhecimento porque se sente já bem paga, é feliz assim.

Em tudo na vida é assim; se percorrermos cada uma das áreas de atuação do ser humano, veremos que o que entedia, cansa, desanima não é o trabalho em si, mas o modo como o encaramos. Se amamos o que fazemos, seja pequeno ou grande, deixa de ser um fardo.

Jesus fez grandes milagres, disse grandes verdades, acudiu e mudou a vida de tanta gente. Entretanto a maior parte de seu tempo de vida na terra foi preenchido de coisas pequenas, coisas naturais, coisas possíveis para todos nós, simples mortais. Seus grandes milagres não são copiáveis e, se nos prendermos a eles, fracassaremos; mas o seu dia a dia pode muito bem ser o nosso: “Assim como eu fiz, façam vocês também...”, “Assim como eu vos amo, amem vocês também...”

O próprio amor é sempre possível porque, apesar de poderoso, é simples, apesar de forte, é humilde...

As pequenas coisas, as coisas simples, se identificam com a humildade; já a arrogância, o orgulho casa-se bem com as grandes coisas, os grandes feitos.

Deus nos chama à santidade e esta é possível porque Ele nada nos pede que não esteja ao alcance de nossas forças.

Os nossos fracassos acontecem por conta das nossas “grandezas”, de nosso “olho gordo”, de nossa ganância. O limite deveria ser nossa necessidade, mas corremos atrás do supérfluo, das aparências, das ofertas do mundo materialista e consumista.

Os sonhos, os desafios são importantes em nossa vida, mas devem ser bem dimensionados para que não se tornem pesadelos, utopias, e não causem frustrações e sofrimentos em lugar de satisfação.

Precisamos educar desde cedo nossas crianças sobre a necessidade de limites e que estes não significam acomodação ou fraqueza, mas, sobretudo, bom senso, equilíbrio, maturidade e segurança. Afinal somos seres limitados.

É muito mais fácil conviver com pessoas simples, mais fácil agradá-las, ajudá-las e mesmo amá-las. Pessoas complicadas tendem a ser mais pessimistas, amargas, difíceis e infelizes.
De qualquer maneira precisamos cuidar das coisas simples e não desprezá-las em vista das grandes. Poderíamos perguntar por que Jesus, que podia multiplicar pães à vontade, foi se preocupar em recolher as sobras. Sem dúvida uma lição prática sobre o valor da boa administração dos bens. Jesus nos ensina que devemos cuidar deles sem esbanjar, descartar.

Vamos lembrar a importância das pequenas coisas: a água corrente na torneira, o sol banhando nosso quarto, a alegria das crianças, a brincadeira com os filhos, os pequenos passeios, a casa limpa, arrumada, enfeitada, a comida caseira, a roupa lavada, passada, as flores que crescem no jardim, o canto dos pássaros... e agradecer por elas!

Sonhamos com uma grande felicidade, mas esta não passa da soma de pequenas felicidades, vividas nas pequenas coisas realizadas ou conseguidas.
Existe algo tão simples, pequeno e barato como o sorriso? No entanto sua presença faz uma enorme diferença na nossa vida e na dos que convivem conosco.
Vamos começar a sentir a vida a partir das pequenas coisas; com certeza muita coisa vai mudar e estaremos mais perto de, um dia, ouvirmos as palavras do Evangelho: “Servo bom e fiel, porque foste fiel no pouco, eu te darei o muito.”

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