As perguntas que as escolas não fazem
Escrever é um recurso da alma. Sempre que as ideias e os sentimentos parecem sufocados, a palavra os liberta! Descobri isso sozinha, a escola não me ajudou. Na verdade, ela bem atrapalhou. Lembro até hoje dos riscos vermelhos tingindo meus textos de sangue, como a cena da batalha perdida.
Por muito tempo acreditei que escrever não era pra mim, até conhecer a obra: “Livro, um encontro com Lygia Bojunga”. Nele, a autora diz que só começou a escrever quando olhou pro um lado e pro outro e não viu nenhuma professora com caneta vermelha nas mãos.
Repeti a lição.
Hoje, a palavra mora comigo: às vezes me liberta; outras, me escraviza... Mas sem ela perco as ideias e desorganizo os pensamentos. Depois de um longo silêncio, a palavra tem me questionado; e de forma bem atrevida. Exatamente como Adélia Prado que quando pensou ter alcançado todas as respostas, lhe vieram muitas outras perguntas.
Será que o que fazemos no interior das salas de aulas, de fato, ajudam nossos meninos e meninas a superar seus medos e a vencer os desafios? Porque a escola continua agindo como se tivesse todas as respostas? O que ela sabe do seu aluno?
Tenho medo das respostas. Aliás, as tenho evitado.
As perguntas são a porta aberta para a compreensão da complexa existência humana. No livro infanto-juvenil: “Ei, tem alguém aí?” de Jostein Gaarder, Mika, um menino de outro planeta, curva o corpo para frente, num gesto de reverência, quando lhe fazem uma pergunta inteligente. Ele sabe que só as perguntas nos ajudam a evoluir.
Por isso temo as respostas prontas, as certezas fáceis e a arrogância acadêmica. Recentemente recebi um relatório escolar informando as ações necessárias a tomar, como mãe, para que minha filha melhorasse o rendimento nas disciplinas de exatas. O relatório me chocou! Nele, os professores diziam, entre outras coisas, que eu deveria participar mais da vida escolar. Senti-me desrespeitada e pensei: eles pouco sabem da nossa vida.
Passei a vida inteira intrometida na escola dos meus filhos: fui dona, diretora, coordenadora e professora nas escolas que eles estudaram. Talvez isso até tenha sido prejudicial; não sei! Essa será mais uma daquelas perguntas levadas para a vida toda. Mas, o que realmente me incomoda não são os fatos da realidade: a maturidade nos ensina a enfrentá-los. O meu espanto está nas respostas acomodadas, predeterminadas.
Penso que no tempo e lugar das respostas, as escolas deveriam fazer mais perguntas. Como e porque alguns alunos aprendem mais facilmente na linguagem escolar? Quais os caminhos indicados nos erros de raciocínio dos alunos que não aprendem? Será que é o aluno que não aprende ou é a escola que não sabe ensiná-lo de outro jeito? Qual é o modelo de aprendizagem dos alunos com dificuldade na linguagem escolar?
É obvio que a prática escolar não pode ser conduzida sem algumas respostas. Elas nos ajudam a vencer as etapas do desenvolvimento humano nessa longa jornada de aprendizagem. O que as respostas das escolas não podem é continuar ditando o destino dos nossos alunos. Ah, isso elas não podem!