Publicado: Segunda-feira, 1 de dezembro de 2008
As quatro estações do meu ser
Na primavera floresço. Crio imagens, escrevo idéias, esperanço a vida com cheiro de jasmim. O aroma da vida nascendo me convida a encontrar pessoas, cantar em roda, regar as plantas e nutrir o espaço com flores e sementes. É tempo de gerar.
No verão expando. Corro de braços abertos sob o sol escaldante. O vento em meu rosto relembra a velocidade do tempo. Me amarelo de luz, me azulo de céu e na mistura dessas cores esverdeio os passos do meu caminhar. É tempo de crescer.
No outono recolho. Meus braços me abraçam na solidão de quem ama. A música é silenciosa, de uma nostalgia tão bela como a folha amarronzada que em sua queda dança. É tempo de dizer adeus.
No inverno abrigo. Na caverna da noite visito o mistério. Ouço o eco do medo, busco a voz da coragem. Pulsam em mim as batidas do tempo, na voz de quem sabe. Algo em mim espera. É tempo de silêncio.
Quero primaverar de cores a minha estrada. Brilhar de quentura meus sonhos de verão. Outonar o que não preciso mais, embora honre e agradeça. Invernar tudo o que sei para esquecer e recomeçar.
Em cada passo um compasso. Em cada tempo um espaço. Em cada som um abraço.
As quatro estações moram em mim, apesar de mim. Não há nada que eu possa fazer a não ser abrir as portas da minha morada. Deixar o frio, o vento, o sol e a chuva entrarem.
Há quem diga que nada acontece. Ou quem passe as horas esperando o amanhã chegar. Há quem chore o inverno por toda uma vida. Ou quem cante o verão sem parar para chorar. Há quem plante sem esperar a colheita. Ou quem queira colher, sem nem mesmo plantar. Há de tudo um pouco, e um pouco em tudo.
Mas a primavera virá.
Posso apagar e recusar. Posso cegar e congelar. Posso querer envidraçar. Posso mesmo ignorar.
Mas o verão chegará.
Posso olhar e aceitar. Posso encantar e vibrar. Posso esperar e lembrar. Posso até mesmo celebrar.
Mas o outono cairá.
Porque nem tudo o que sou é eu. E nem todo eu é só meu. Nesse vasto universo de estrelas, tudo pode acontecer. O sol vai nascer, ainda que eu o rejeite. A noite vai cair, mesmo que eu não feche os olhos. O beija-flor voará, ainda que eu aprisione o que de mais lindo há em mim. E as folhas cairão, mesmo que eu tente segurar.
E o inverno chamará.
O tempo é feito desses instantes fugazes e brilhantes. Posso escolher como quero viver a primavera, dançar o verão, acolher o outono e acariciar o inverno. Só posso escolher de que forma vou atravessar essa jornada. Nada mais.
Porque, afinal... a primavera virá, o verão chegará, o outono cairá, o inverno chamará...
(Dedico esse texto a uma bailarina da arte, que com alma delicada e movimentos sinceros me fez lembrar e acolher as quatro estações do meu ser)
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