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Publicado: Sexta-feira, 27 de janeiro de 2006

As riquezas familiares

Era uma vez DOIS que se tornaram UM, que se tornou TRÊS...

A família em si já é um verdadeiro tesouro. Na prática, no entanto, isso nem sempre é bem visível. A preciosidade da família está na vivência dos seus valores, infelizmente desprezados, ignorados, desvalorizados e até combatidos.

O ser humano é por natureza um ser social, criado para conviver e nada mais rico e maravilhoso que o convívio familiar. Grandes amizades são necessárias e importantes para nossa vida, mas são sempre complementos da vida familiar. É bem sabido que a sociedade moderna, notadamente a "independência" da mulher e suas relações profissionais acabaram por reduzir o tempo de convivência, com enormes prejuízos em relação aos valores e aos afetos. Pesquisas revelam ainda que o mercado de trabalho - aliado às exigências financeiras da vida moderna - rouba cada vez mais o tempo de convivência familiar e que o pouco tempo disponível, geralmente ao final da tarde ou início de noite, não é bem aplicado para comentários e conversas, mas dedicado à televisão...

E a estabilidade? Onde encontrá-la, senão no seio da família? O ser humano busca a estabilidade, gosta e precisa dela para crescer, se firmar. A segurança! Haverá ambiente mais seguro que o familiar? Onde encontrar tanta confiança, tanta compreensão, partilha e união? O lar deverá ser o "porto seguro" sempre tão desejado após encontros e desencontros. É muito bem sabido o quanto o ser humano depende de um lar estável, seguro e duradouro.

Lembramos ainda as reuniões familiares, as festas, as refeições, as partilhas sinceras das alegrias e das tristezas, a confiabilidade, a ajuda desinteressada...; onde encontrar tudo isso junto e a todo instante? É claro que a sociedade tenta oferecer alternativas, mas será que satisfazem plenamente? Por que procurar alternativas, se podemos ter tudo isso na boa e velha estrutura familiar? Vale a pena todo esforço para criar e manter a organização familiar, uma instituição que nasceu com a própria origem do ser humano e que provou ao longo dos tempos seu valor, sua eficiência e sua fundamentalidade para a vida humana.

O bom de tudo isso é que a família pode ser construída e está ao alcance de todos. Basta acreditar nisso, querer e fazer acontecer. Sempre será possível encontrar meios e ajudas para tanto: Deus, pais, amigos, boa-vontade e determinação podem representar tudo que precisamos. Então, por que não tornar isso uma realidade?

Histórias e exemplos não são difíceis de encontrar, basta olhar para nossos antepassados, nossos pais, nossos avós...

Famílias onde encontramos paz, diálogo e compreensão, amizade e solidariedade, são verdadeiros riachos de pedras precisosas; riquezas que nos engrandecem porque participamos da sua "construção"; riquezas que podem passar despercebidas e que muitas vezes necessitam ser descobertas, o que sempre será possível se soubermos garimpar.

Infelizmente nós nos portamos mais como enterradores que caçadores de tesouros. Enterramos as boas oportunidades, os momentos de alegria e de paz que as crianças insistem em criar, o carinho com que nossa esposa cuida da casa e dos filhos; enterramos o romantismo que trazemos dentro de nós. Esse baú de tesouros, como em muitas histórias, permanece "enterrado" e muitas vezes passamos nossa vida a sua procura, fora de nossa família.

É evidente que as maiores riquezas familiares são seus membros: as crianças, boazinhas ou levadas, criaturas indefesas que Deus continua colocando em nossas mãos, porque, apesar de tudo, ainda ama e acredita no ser humano, sua obra-prima. Crianças que valorizam nossos lares, que os enchem de vida, de encanto e de esperança; crianças ávidas de carinho e atenção; comer, beber, brincar... observar, captar, explorar, enriquecer-se de experiências sempre novas; precisam crescer...

Os adolescentes, "crianças crescidas", sonhadores e assustados com seu SER e com o amanhã, abertos para o Amor, animados para escalar a vida; "asas" crescidas, frágeis porém; desajeitados e desencontrados muitas vezes; vivem a saudável crise da transição: não são mais crianças para tantas coisas, mas ainda imaturos para outras...; haja paciência, compreensão e orientação diante do mundo que começa a se abrir, tentador e ameaçador, atratente e perigoso...

Jovens, que buscam seu “lugar ao sol”, sua identidade e sua razão de ser, perdidos muitas vezes na complexidade do mundo moderno, mas entusiastas e confiantes num futuro melhor. Jovens, às vezes difíceis de compreender; asas formadas e prontas para voar; atraídos pelos desafios, porém nem sempre preparados para enfrentá-los... ainda precisam olhar para trás e encontrar apoio...

Os adultos - capazes de apoiar as crianças, os adolescentes e os jovens - , sabem a força do amor, do diálogo e da partilha de suas experiências; adultos responsáveis pela construção de um mundo melhor. Adultos que são esposas e mães fiéis, dedicadas e generosas. Adultos que são maridos e pais, amigos, apaixonados, heróis, bondosos e presentes. Adultos que sabem o que é ser criança, adolescente e jovem e por isso são importantes, fundamentais nessa teia familiar e social...

Os idosos, que já acertaram e já erraram na vida e possuem a sabedoria da experiência humana. Sábios e cansados, com direito a "férias". Já fizeram sua parte e podem olhar para trás e ver, no caminho trilhado, a continuidade de suas realizações, seus projetos e sonhos: filhos, netos, bisnetos... Novas famílias... Missão cumprida!

Vamos encerrar com um texto de Carlos Aguiar, autor português:

"Um dia o casamento
E a ilusão
E o sonho!
E o outro dia o nascimento
E a alegria
E o amor
E o sonho
E a ilusão
E o trabalho
E o colégio
E um brinquedo!
E todos os dias a casa
E o trabalho
E as decisões
E o cansaço
E as desilusões
E mais amor !
E outros filhos
E mais trabalho
E mais decisões
E mais cansaço
E mais amor
E mais sonho!
E o primeiro neto!
E mil surpresas cada dia!
E a esperança que não pode faltar...
E a Fé que não pode faltar.
E a Fé que não pode esmorecer.
E o amor que não pode morrer!"

Agora, que tal pararmos de achar que "a grama do vizinho é sempre mais verde"? Que tal olhar p

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