Assim seja, Rubem Alves
O primeiro ano da faculdade é sempre uma euforia doida. Além da sensação de fazer parte do mundo adulto, abrindo enfim as portas da vida profissional, o contato com a vida acadêmica nos permite ampliar a visão de mundo de forma surpreendente.
É quase sempre nessa fase que esticamos os horizontes, gozamos da liberdade física e mental e, ainda, nos enchemos de coragem para questionar os valores da nossa educação.
Por isso estudar é importante. Além da estimulação das sinapses, fortalecendo os avanços cognitivos, abrimos a mente e superamos preconceitos ideológicos e culturais.
Ainda lembro, como se fosse hoje, do meu encanto com o ambiente acadêmico. A biblioteca imponente, os professores doutores, as citações teóricas: tudo aquilo me consumiu de imediato e de lá prá cá, a satisfação causada pela apropriação intelectual me extasia por completo.
A faculdade me fez capaz. Ou pelo menos, me fez sentir... O que já é muito: a autoestima é o nosso bem maior. Nela, eu conheci Rubem Alves, com quem retomei a fé e a esperança, livre das amarras da Igreja. “O que é Religião”, meu primeiro contato com as palavras de Alves, me ensinou a coerência entre o discurso e o gesto, entre a palavra e o sentimento.
Talvez por isso sinta-me tão aprisionada ao sentimento. Exatamente como Adélia Prado, “minha mãe achava estudo a coisa mais fina do mundo. Não é. A coisa mais fina do mundo é o sentimento.”
E sentimento foi o que ficou do meu encontro com Rubem Alves em Porto Feliz, neste começo de ano. Depois de tantos livros lidos e tantos anos passados, senti a mesma euforia doida do primeiro ano de faculdade, quando em um espaço profissional fui sua anfitriã. Ao recebê-lo, na porta do seu carro, me pediu apoio para caminhar: sentia-se fraco e precisava de ajuda. Enquanto caminhávamos lembrei-me do quanto já tinha me apoiado em suas palavras para sentir-me em pé, forte e confiante... Fraqueza da alma derruba mais que fraqueza do corpo.
Assim, possuída pela emoção, agradeci a oportunidade e rezei Saramago: “a vida é breve, mas cabe nela muito mais do que somos capazes”.
E assim seja, Rubem Alves!