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Publicado: Quinta-feira, 29 de março de 2012

Até tu, SESC?

Até tu, SESC?

Semana que passou fui para Sampa participar de um curso promovido por uma querida amiga. “Ensaios ignorantes” era o nome provocante do curso. Mas topei com a ignorância bem antes de se iniciar o curso. A vida é ainda mais provocante.

Ao me aproximar de mais uma unidade do SESC, local dos tais “Ensaios ignorantes”, brincava com minha companheira sobre as chances de ter meus direitos à acessibilidade respeitados:

- Você verá, dizem que o SESC Interlagos é uma maravilha! Vamos encontrar uma vaga reservada para deficientes bem na porta de acesso ao teatro. Tenho certeza. E ao tirar meus pés do carro, serei interceptado por duas gueixas que prontamente irão tirar meus sapatos e meias e me aplicar uma massagem relaxante nos pés. Você vai ver que beleza.

Chegamos.

- Desculpe senhor, aqui não pode parar. A vaga reservada para cadeirantes é ali atrás. Apontou com o dedo na direção de uma daquelas placas azuis indicativas de vagas para cadeirantes. Ôps, ao invés das gueixas um segurança. Já começou mal.

A vaga ficava a cerca de cinquenta metros do acesso ao prédio. Um pouco sem sentido. O caminho era de paralelepípedos. Muito sem sentido. Garoava e o trajeto da vaga especial até a entrada do prédio era descoberta. Qual o sentido disso? A coisa passava da negligência ao sadismo. Longe, escorregadio e sem abrigo contra chuva.

Até tu, SESC?

Cheguei. Ufa!

- Por favor, onde é o teatro para os “Ensaios ignorantes”?
- É só descer as escadas. O teatro fica lá embaixo.
- Elevador?
- Não temos. Infelizmente. Mãozinhas unidas junto ao peito e sorrisinho simpático:
- Não temos.

Lá fui eu. Atenção, cautela, equilíbrio, sensatez, humildade e as bengalas.

Cheguei, ufa! Mas se desci tudo isso, terei que subir!

Ainda bem que entre um evento e outro teria os “Ensaios ignorantes” para eu me recompor. O SESC sempre promove eventos tão interessantes.

Apenas sentei-me na poltrona confortável do teatro e ponderei: Se até o SESC que é o baluarte do “politicamente correto”, um militante da batalha civilizatória no país, sempre tão atento às pluralidades e aos princípios tão democráticos da república não respeita o mais básico requisito da acessibilidade, então estou frito.

Por outro lado, esse é um forte indício que continuarei tendo muitos temas para escrever novas crônicas. Posso reuni-las e inscrevê-las nalgum concurso literário promovido pelo SESC. Eles promovem tantos!

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