Colunistas

Publicado: Quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Aula de musculação grátis

Aula de musculação grátis

Começo a ficar repetitivo quando o assunto é acessibilidade, mas a culpa não é minha. Nessa semana fui ao shopping Plaza em Itu e como estava com as pernas bem cansadas – sofro de esclerose múltipla há vinte e dois anos - resolvi usar uma das cadeiras de rodas que ficam ali na entrada do shopping.

Quem passa por ali e vê aquelas cadeiras deve pensar: puxa, que bacana, o pessoal está preparado para receber quem tem dificuldade de mobilidade, certo? Errado. Nem quando eu treinava boxe na adolescência ou quando fiz remo na longínqua época da faculdade eu fiz tanta força como naquela tarde.

A cadeira de rodas estava num estado lastimável, toda quebrada, com as rodas travadas. Faze-la andar era uma tarefa quase impossível, no meio do caminho tive vontade de me levantar e largar a cadeira ali no meio do corredor. Como notei que a porta que dava acesso ao local onde deixei meu carro estacionado já estava um pouco longe, desisti do ato de rebeldia. Tive que parar para tomar um suco e comer algo a fim de juntar forças para voltar com a cadeira até o local onde a apanhei.

Enquanto comia e renovava minhas forças para fazer aquele troço andar pensei nessa crônica. Mas a tarde ainda reservava mais do mesmo.

Levei a cadeira de volta e avisei ao segurança que aquilo não deveria ser oferecido a ninguém muito menos a quem precisasse. Ele desculpou-se e disse que levaria minha reclamação aos seus superiores.

Fui ao Extra fazer umas compras, lá tem uma cadeira motorizada. Alívio para mim, certo? Errado. A moça responsável por permitir o aceso a tal cadeira interrompeu seu papo com a colega e dali onde estava, cerca de vinte metros da cadeira elétrica, passou as instruções: olha a chave é essa, o senhor vai até ali e despluga a tomada, não da parede, despluga do carrinho, ali embaixo, aí o senhor coloca essa chave ali em cima, ao lado e pronto já pode usar.

Não sou eu quem escreve mal, o texto dela foi esse mesmo, depois ainda teve uma última pérola: o senhor quer que eu guarde a sua bengala aqui comigo? Se ela guardasse a bengala ali com ela como eu chegaria até o carrinho?

Claro que levei cinco minutos para realizar toda a tarefa que me permitiu usar o tal carrinho, período durante o qual a moça ficou conversando com a colega.

Em meu trajeto pelo supermercado transitei por corredores estreitos demais para a passagem do carrinho, disputei cruzamentos com funcionários que não me davam prioridade e por fim não consegui passar pelo caixa com o carrinho, pois o corredor do caixa era mais estreito do que o carrinho.

Finalmente encerrei minhas atividades no shopping Plaza Itu, foi uma espécie de epopéia. E eu, não sei se ingênuo ou estúpido, acreditava que o conceito de acessibilidade fosse uma ideia já consolidada em paragens ditas civilizadas.

Pelo menos ganhei massa muscular. Bícepes, trícepes, peitoral e ombros mais definidos sem pagar por um personal ou academia.

Comentários