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Publicado: Quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Autocrítica para o fim do mundo

Últimas palavras antes do esperado 21/12/2012

Tenho apenas algumas horas que me restam antes do mundo ser engolido por um buraco negro. Talvez destruído por uma avalanche de meteoros. Ou para os que gostam de  conspirar, a mudança de um líder mundial que vai elevar o Zeitgeist ("espírito do tempo") a outros patamares. Um momento tão importante como este, para alguém que procura significado na vida em meio a um ceticismo que não permite metafísicas, não pode passar sem uma carta de despedida. Como aquelas dos filmes, em que o mocinho, a um passo de realizar o ato heróico que lhe tirará a vida, decide deixar alguma marca que julga que algum dia será eterna. Aqui, é claro, sem o brilho homérico e nem a prosperidade de um futuro melhor.

Para garantir algum conforto mesmo sabendo que meu único registro autobiográfico será gravado em uma página da internet, em poucas linhas e sem nenhum prestígio, decidi que não devo contar se fui produtivo ou se conquistei algo neste ano de 2012. Vou falar de minhas falhas. De meus erros de caráter, de personalidade, de decisões mal elaboradas. De frases que deveriam ter sido reformuladas. Se alguém sobreviver para ler, que faça bom proveito.

Falar mal de si é tarefa das mais cinzentas. Afinal, somos os últimos a reconhecer o que de errado fizemos. Como advogados criminais, levantamos até o último argumento vergonhoso e pedante para justificar um ato falho qualquer. "Não estudei porque trabalhei. Não namorei porque não tive tempo. Fiz errado pensando em causas maiores. Justifiquei meus meios pelos fins".
Parece-me que o único juiz que toma as rédeas e impõe reflexões morais é o próprio tempo. Cinco anos após determinado incidente, comportamento ou opinião, torna-se mais fácil olhar para trás e dizer: como fui idiota. Assim como só conseguimos fazer piada de nossas tragédias quando estamos muitos anos a frente. Como nas palavras de Mark Twain: humor é tragédia, mais tempo.

Nestes últimos 300 e tantos dias, trabalhei em três lugares diferentes, namorei duas vezes, conheci amigos virtuais, terminei a faculdade e passei em uma pós-graduação. Também viajei para o Mato Grosso do Sul em busca de novidade e acabei encontrando a coincidente (imensurável, inesquecível e qualquer outro adjetivo que torne a situação imortal e de proporções dantescas) tragédia de chegar à cidade de Campo Grande no mesmo dia em que minha prima morreria em uma mesa de operação. Também foi um ano que li, mas mais ainda que deixei de ler. Se fosse calcular, os 10 ou 15 livros que terminei não se comparam às centenas que deixei de lado por preguiça.

Falhei miseravelmente no aspecto social. Se por um lado foi um ano positivo aos estudos, à graduação e a alguma produção intelectual, faltaram-me pequenas saídas e conversas sem pretensões. Os grandes diálogos que não querem dizer nada. Se o mundo acabar amanhã, muito do que fiz em 2012 se reduzirá aos escombros e à sujeira de uma terra abatida e sem cor. Mas neste aspecto há ressalvas: seria injusto descartar a importância que me foi dada por um grupo de amigos que já se conhecia há muito tempo e decidiu me "agregar" poucos anos atrás. 2012 foi o ano de reforçar estes laços com eles e até mesmo de fazer ressurgir alguns gostos e sabores da infância que até então, eu sequer me lembrava da existência.

Foi também um ano de perder pessoas. Não só pela partida inevitável que é a morte, mas pela intransigência, muitas vezes até pelo orgulho ferido que não permite ataduras ou analgésicos. Pelo afastamento simples e bruto, divergências que não deveriam atingir as pessoas, totalmente irrelevantes. Se este for o último dia de minha existência no planeta, eu pediria a mim mesmo mais empatia, como bem lembrou uma amiga que estreitei laços pela faculdade e pelo trabalho.

Ainda não é suficiente. Também é o ano para se criticar a vaidade. Quando "quem" se torna mais importante que o "quê". Certo dia, enquanto ainda trabalhava como

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