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Publicado: Terça-feira, 19 de março de 2013

Avanco ou retrocesso?

Por que teria Deus distinguido o ser humano, entre outros predicados, também com o importante dom da fala?

A evidência da resposta salta aos olhos: o homem é um elemento eminentemente sociável e comunicativo.

A inteligência e o uso da razão, estas características o diferenciam um pouco entre si, tanto que há loquazes, moderados e uns poucos até mais inclinados a um certo mutismo. Na verdade, com sua capacidade de criar e discernir, os seus inventos intermináveis provocam alteração de costumes em todas as épocas. Essa diferenciação inconteste atingiu através dos tempos formidável evolução. Usos e costumes, por mais tempo que predominem, sofrem troca, modificações ou supressão definitiva.

Uma ou mais novidades por dia. Em todo mundo.

Após o surgimento da informática então, hábitos novos se tornam arcaicos do dia para a noite.

Quantas viagens não deixaram de ser feitas, quando o objetivo colimado é aquele de rever amigos, parentes e conhecidos? Sentado ele – ou ela – aqui no Brasil, conversa com imagem clara com o outro ou a outra (no bom sentido e noutros...), aquele no Japão.

Com esta divagação sem maiores pretensões, quer-se ressaltar que hoje o calor humano já não é mais nem morno. Fator grave, ao se considerar tal anomalia mesmo entre pais, filhos, tios, primos e assemelhados. Laços de família se desprenderam em muito. É-se, atualmente, conduzido a uma internação comunicativa cada vez maior.

O que é que um e-mail não facilita? A mera troca da costumeira saudação e dos amplexos mútuos, desaparecem. O caloroso abraço de outrora se transmuda noutro, este apenas escrito. E frio por consequência. Aperto de mão, nem se falar dele.

Parar para conversar em encontros casuais, nas ruas, cada vez mais breves ou substituídos por simples olhar e meneio de cabeça.

Por último – porque de resto, o intuito da prosa de hoje o prezado leitor vai deduzir por si mesmo – é o constrangedor distanciamento dos pequerruchos, surdos, cegos e mudos ao que se lhes ocorra ao derredor – dedilham com incrível agilidade o teclado ou perpassam as telas dos mil e um artefatos modernos de um visual sem fim.

Se o adulto não interfere para pedir um alô ou aquele abraço de outros tempos, a cabecinha deles debruçada nos ombros da gente, sequer percebem que você chegou ou vai sair.

Não se leve o reclamo desta semana à conta de saudosismo inócuo ou de pretensão de reforma de hábitos e atitudes. O fenômeno é irreversível.

A esperança – aquela que os de hoje nem vão ver nem viver – seria o da retomada da condição plena do homem, criatura pensante e porque diferente no mundo da criação, a ponto de acordar e se inteirar de um brocardo verdadeiro e inconfundível:

“Para o homem, o maior espetáculo da terra ainda é o próprio homem.”

Por isso mesmo, hoje, 15, aniversário da esposa, o cronista se permite e o faz com imenso prazer: um abraço longo, reflexivo, agradecido, pele na pele.

 Parabéns.

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