Aviação: tempestade à vista
• Surgiu um aplicativo que facilita o contato direto entre advogados e passageiros que tiveram problemas com companhias aéreas e querem ir à Justiça. O objetivo é eliminar a etapa do viajante buscar um advogado e agilizar os contatos com os profissionais cadastrados, remunerados com 25% sobre eventual indenização.
• Alguns líderes de agências de viagens reivindicam receber comissão do governo pela cobrança de taxas de embarque nos aeroportos, alegando ser similar a qualquer outra venda que intermediam.
• Um documento dos dirigentes de associações de agências para o Ministro da Aviação Civil, pede, na contramão do que é praticado no mundo, a intervenção oficial em itens como garantir a marcação prévia de todos os assentos nos aviões, não cobrar pela antecipação de algum voo nos aeroportos, impedir taxas fixas pela reemissão de bilhetes, ou homologação pela Anac (Agência Nacional de Aviação Civil) de regulação interna das companhias aéreas.
Estes fatos, aparentemente isolados, suscitam uma questão: a aviação brasileira estaria se tornando vilã ou vítima? Até que ponto há uma real busca pela defesa do consumidor? Não se estaria fomentando uma indústria que explora fragilidades operacionais das empresas aéreas? Não existe a intenção de defender mercados cativos ou obter receitas adicionais que tenta adiar uma evolução tecnológica inevitável com a desintermediação de agentes na aquisição de passagens aéreas?
“A aviação comercial brasileira desempenha papel significativo na integração e no estímulo de negócios entre as regiões do território nacional”. A afirmativa é do especialista Gílson de Lima Garófalo, professor de economia da PUC-SP e USP. Ele acrescenta que esta indústria contribui com 1% no Produto Interno Bruto – PIB. “Trata-se de setor dinâmico, eficiente, abrangendo atividades complexas, de uso intensivo em capital, com mão de obra qualificada, tecnologia de ponta, e fornecedor de bens e serviços de elevado valor”.
O professor relata que as 350 localidades em 1957 hoje se reduzem a 120 aeroportos. Já os passageiros triplicaram em dez anos para 100 milhões. A infraestrutura aeroportuária não acompanhou. “Os recursos de navegação estão defasados, o que onera empresas e aeroportos que operam no limite da capacidade, resultando em atrasos, tempo perdido e custos pela espera de autorização para aterrissar ou decolar”, resume o professor. De nada contribui o preço dos combustíveis, entre os mais altos do mundo, que somado aos impostos representa 40% das despesas da aeronave.
Por outro lado, as companhias aéreas, ao profissionalizar a gestão e adotar uma frota moderna em ambiente de concorrência fizeram baixar custos e preços. Mas para isto precisam permanecer saudáveis e dar lucro.
Várias medidas estão sendo tomadas pelo governo e setor privado para recuperar o tempo perdido. A privatização dos aeroportos, por exemplo, é algo que não ocorre da noite para o dia. Ninguém ganha ao demonizar a aviação comercial, e menos ainda em usar suas dificuldades operacionais momentâneas buscando gerar receitas para quem deveria encontrar fórmulas legítimas de assegurar a sobrevivência.
* Este texto foi publicado originalmente na coluna Viagens de Negócio, de Fábio Steinberg, no dia 29 de julho de 2014, no Diário do Comércio da Associação Comercial de São Paulo.