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Publicado: Terça-feira, 8 de setembro de 2009

Bairro da Bica

Bairro da Bica

Ultimamente tenho deparado imensas vezes com notícias sobre o Bairro da Bica. Logo pensei que talvez fosse um sinal para eu escrever sobre o assunto.

Esse pitoresco bairro é composto por escadas, escadinhas, quelhas e becos. Diz-se que é o único bairro que tem data de nascimento! Mas essa data não remonta a construção da primeira casa e sim a um terremoto em Julho de 1597 que provocou uma enorme derrocada ao lado das Chagas, dando origem a uma parte do “vale”, onde surgiu depois o bairro. Em Fevereiro de 1621, outro terremoto provocou desmoronamento do monte do lado de Santa Catarina e  a Bica ganhou a configuração atual,  um aspecto muito íngreme, característica geográfica de Lisboa.

Morreram pessoas e foram destruídas muitas casas e durante muitos anos nenhum negociante abastado ou dono de brasão e sangue azul quis construir ali sua residência.

É muito interessante porque lá se fixaram pessoas vindas das províncias atraídas pelos rendimentos das profissões ligadas ao mar.

Ao atuais habitantes são, geralmente, descendentes dessas pessoas (marinheiros, pescadores, peixeiras) e muitos ainda habitam casas de seus tetravós.

Diz-se que o nome do bairro deriva de uma bica cuja água flui intensamente para um tanque do século XVIII, no Pátio das Broas. Era frequente faltar água em Lisboa, portanto as bicas e fontes eram locais de encontro. Ao longo do bairro persistem ainda muitos chafarizes que confirmam a quantidade de água que ali existiu e que em tempos eram tidas como possuidoras de propriedades curativas.

Caracteriza-se também por ser um bairro de fadistas e escritores, como Fernando Farinha, Carlos do Carmo, Manuel de Almeida e Alçada Baptista.

Na  Rua da Bica de Duarte Belo localiza-se o famoso Ascensor da Bica, propriedade da Companhia de Carris de  Ferro de Lisboa, estabelecendo ligação entre o largo do Calhariz e a Rua de São Paulo, defrontando essa íngreme encosta. Era, a princípio, movido pelo sistema de contrapeso de água (o carro que ia iniciar a  descida enchia um reservatório de água, situado no tejadilho; com a força resultante desse peso suplementar, aliada à força gravitacional do plano inclinado, rebocava o carro da subida). Em 1896 passou a mover-se a vapor, e posteriormente, em 1914 procedeu-se a sua eletrificação. Nesse mesmo ano sofreu um acidente e ficou parado durante nove anos.

Com mais de um século de existência, é o ascensor mais típico da cidade, embora não tenha a mesma afluência do Elevador da Glória, constitui nos dias de hoje uma das principais atrações turísticas da capital portuguesa, sendo por isso classificado de Monumento Nacional em Fevereiro de 2002.

Esse tipo de história me faz pensar na correria desenfreada que vivemos hoje em dia, atrás de coisas que às vezes não sabemos bem o que é. Como era o significado do tempo há algumas centenas de anos e o que é para nós hoje 20 minutos no trânsito. Quando apanho um desses transportes antigos em Lisboa confesso que viajo na história, nem me importa se o elétrico não consegue passar porque tem um carro bloqueando a rua, ou se as velhotas começam a discutir por causa de lugares sentados, misturado aos estrangeiros que também se encantam com esse cenário. Isso tudo me faz regressar no tempo, é uma sensação de estar realmente na Lisboa de Fernando Pessoa.  Quando chego ao destino parece que a máquina do tempo avançou e olho para trás pensado, ansiosamente, no dia que terei que (tomara que seja logo!!) apanhar o elétrico….

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