Publicado: Sexta-feira, 17 de julho de 2009
Bandas e cidadania
A TV, para muitos, só é consultada ou vistoriada de forma aleatória.
Já, nesse correr de canais, a gente pára aqui e ali.
Constantemente, programas de bom apelo, interrompidos por intervalos, são esquecidos.
Nesse passeio que se faz, já comodamente da própria cama – numa inserção costumeira das madrugadas – surgiu um interessante documentário.
Na TV Futura.
E sobre qual assunto?
Ora, vejam. A respeito de bandas de música.
Houve dos mais variados enfoques e deu-se importância maior às bandas do interior do país, até em zonas bem afastadas.
O fato é que, com esse meio de atração, em pequenos municípios, lugarejos até, a banda de música é a razão de ser principal dos seus habitantes. Desvelam-se com uma dedicação imensa, o povo se envolve e cria-se, surpreendentemente, um clima de pura cidadania.
Fator espontâneo de integração social, coletiva.
É de ver como nas quermesses, festas religiosas e cívicas, folguedos todos, os munícipes se juntam em torno dos circunspectos e afinados músicos.
Faz tempo, - e muito tempo! - de pé na escadaria da Igreja do Carmo aqui em Itu, viu-se a modesta Corporação Musical Nossa Senhora do Carmo, subir a praça, em meio às palmeiras.
Muito garbo, orgulho e, figura extraordinária, a do insigne maestro, de grandeza moral na estatura pequena, conhecido popularmente como o Sr. Toniquinho, à frente. O saudoso maestro, presente de Cabreúva a Itu, Sr. Antonio Rodrigues da Silveira.
Esse fato gerou uma crônica no boletim “Salve Maria”.
No meio da semana, o cronista é agradavelmente surpreendido, no seu local de trabalho, à época na secretaria da Câmara Municipal (ainda na Casa do Barão, final dos anos 50!). Eis que o maestro aparece para agradecer. O júbilo pelo artigo feito nem era importante; agradou demais saber que, sem essa intenção, tocara-se fundo o coração do músico exímio.
Um fato comum, simples, mas que jamais sairá do compartimento mental que registra e guarda momentos inesquecíveis. Gravados para sempre.
Justamente por causa do documentário na TV futura, é que também fala de perto a Itu, a cômoda e feliz posição de contar com uma das mais gloriosas corporações musicais do estado, sem favor nenhum. Não seria hora nem seria preciso realinhar outra vez os muitos títulos conquistados pela União dos Artistas, a Banda União.
Certo que nos tempos modernos – como acontecia nos domingos à noite – a Banda União não suba mais em marcha organizada, perfilada, a Sete de Setembro, com as passadas conduzidas ao retoque apenas no bumbo, pelo maestro Anísio. O cortejo, imponente e galhardo, fazia a curva mais ou menos no ponto do farol medonho de hoje e vinha em direção ao coreto da praça Padre Miguel. Desfilava, na ida e na volta, sem tocar embora.
Era solene, formal, orgulho permanente da cidade.
A Corporação Musical “União dos Artistas” não viveu somente de glórias. Muitos períodos falam das dificuldades, ora financeiras ora de outra ordem. Vai porém chegando orgulhosamente aos seu centenário, 2012.
Nos últimos tempos, com a extinção da Banda do Carmo (que pena!!!), muitos músicos de lá hoje se incorporaram à União dos Artistas. Com isso, nos concertos dominicais, dá para ver e constatar quão numerosa é na sua composição total. Não se trata porém de mera quantidade de músicos. São profissionais ou amadores, de qualidade todos eles.
O foco da crônica contudo reside noutro ponto.
Viu-se na TV o carinho, a dedicação e o apoio recebidos pelas bandas de música Brasil afora, por parte do povo e dos poderes públicos. Levam a banda a sério. E fazem muito bem.
Justamente por esse motivo é que se pode e se deve endereçar à Banda União o mérito de se constituir numa das mais sérias manifestações de cultura da cidade.
Não pode continuar a Banda União a ser vista e admirada de longe.
As palmas, o aplauso, ela os tem e merecidos.
A Banda União, sem intervenção na sua ordem interna e diretiva, deve e merece ser assumida pelo poder público, como o mais carinhoso e benquisto repositório de cultura de Itu, através dos tempos.
A Banda União se apresentou conjuntamente – lembram-se? – num dos saudosos festivais de inverno de outrora, nada mais, nada menos, com a Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo – a OSESP.
Por sinal que a OSESP cumpre um glorioso roteiro de apresentações estado afora, ano todo.
Itu sabe disso?
Interessou-se por inserir a cidade nessa peregrinação?
Essa, outra história.
Em suma, há que se cuidar melhor da menina dos olhos dos ituanos.
Bandas de música, expressão lídima de cidadania.
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