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Publicado: Sexta-feira, 15 de maio de 2009

Benjamin, o Jovem Idoso

Baseado em um conto de F. Scott Fitzgerald, o filme “O Curioso Caso de Benjamin Button” traz no mínimo um mote original. Há um ditado afirmando que seria ótimo ter a experiência da terceira idade, porém com o vigor da juventude.
 
Apresentando uma situação completamente absurda de tão fictícia, o tema abre margem para inúmeras reflexões sobre a vida humana, nossos dilemas, o tempo, a eternidade e o inevitável encontro com a morte.
 
Brad Pitt deixa de lado o tipo bonitão chique para realmente mostrar o seu ótimo desempenho como ator dramático. Na pele do personagem principal, ele encarna as dificuldades de alguém que nasceu com todas as características de um adulto idoso.
 
Todos pensam ser alguma doença congênita e acreditam que o bebê não viverá muito tempo. O mais incrível é que o bebê não só sobrevive, como vai ficando mais jovem a cada ano.
 
O fantástico é isso mesmo: em vez de envelhecer com o passar do tempo, Benjamin Button fica mais jovem conforme vai adquirindo experiência de vida. À primeira vista parece maravilhoso, não é mesmo? Pois nos damos conta do quanto estamos enganados a partir do desenrolar dos fatos.
 
Aspectos sentimentais, psicológicos, comportamentais e físicos são brilhantemente imaginados e expostos no filme, com grande ajuda de efeitos especiais que transformaram Pitt em um verdadeiro senhor de idade.
 
Há várias partes interessantes e assuntos paralelos inspirados pelo tema central. Entretanto, uma cena em particular chamou a minha atenção. É quando Button depara-se pela primeira vez com o drama da morte de um ente querido. É lógico que ele fica triste e então conversa com uma pessoa a respeito.
 
Por que tem de ser assim? Por que as pessoas nascem, vivem, passam por inúmeras experiências, tornam-se adultas, vencem desafios, criam vínculos afetivos e depois de tanta coisa morrem afinal?
 
Por que não conseguimos nos livrar da sina de perder, durante a nossa existência, a companhia de tantas pessoas que amamos? E por que, sabendo que a vida humana é isso desde que o mundo é mundo, ainda não nos conformamos com o fato?
 
Então alguém responde a Benjamin, sobre a perda de pessoas queridas: “Estamos destinados a perder os que amamos. Como saberíamos que são realmente importantes para nós, se não os perdêssemos?”.
 
Foi então que o protagonista do filme deu-se conta de que adquirir jovialidade com o passar dos anos também teria o alto custo de ver partir praticamente todos os que fizessem parte de sua vida.
 
Muitas outras cenas de “O Curioso Caso de Benjamin Button” nos fazem pensar sobre esse e vários dramas. O desfecho do filme é excelente, mas convém que cada um procure as locadoras para conhecer a obra como um todo.
 
Acostumado a ver Brad Pitt em filmes nos quais há apenas muitos tiros e sensualidade, dá gosto saber que ele realmente tem talento para atuar. Espero que, com o passar dos anos, ele possa investir mais em filmes com mais conteúdo e margem para interpretação.
 
Como exercício filosófico final, fiquemos a refletir sobre como a vida é breve. Ela é breve tanto para nós quanto para os outros. Quanto a nós, será que somos importantes aos olhos de alguém? Importantes para muitas ou poucas pessoas? Será que alguém sentirá a nossa falta quando deixarmos este mundo?
 
Quanto aos outros, quem é realmente importante na minha vida? Será que já expressei isso de maneira sincera? Estou preparado para ver partirem as pessoas que mais amo e estão presentes em minha vida? Serei forte o suficiente para suportar as perdas que o simples passar do tempo me impõem?
 
Amém.
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