Colunistas

Publicado: Segunda-feira, 1 de março de 2010

Boa vizinhança

Basílio era velho morador do bairro, muito estimado por todos.

Nas tardes de domingo os netos de Júlio, seu vizinho, reuniam-se para jogar bola no quintal e, de vez em quando, a bola voava para o quintal do Basílio.

Os meninos não tinham dúvida. Pulavam o muro e iam buscá-la.

Às vezes o Basílio nem via, mas, quando via, brincava com eles:
- De quem foi a lateral desta vez?

Outras vezes a bola ficava perdida por lá e ele chamava o Júlio no muro:
- Olha a bola dos meninos!

Júlio se desculpava:
- Essas crianças! Sempre incomodando os outros.
- Que nada! Nós também fomos criança não fomos?

A devolução da bola perdida era pretexto para um dedo de prosa. Basílio gostava de conversar, discutir política, futebol, comentar as últimas notícias.
- Não, esta bola não é dos meus netos!
- Não? Então deve ser do filho de Zé Maria, o vizinho do outro lado.

E lá se ia o Basílio bater papo com o Zé Maria.

Mas, um dia o Basílio realizou o seu sonho de muitos anos. Comprou uma casa própria e mudou-se.

Os vizinhos sentiram a sua falta, mas ficaram felizes por ele. Ele merecia tudo de bom. Era uma ótima pessoa.

E um novo vizinho, o Fausto, ocupou a casa onde ele morara.

No primeiro “escanteio”, quando o garoto pulou o muro para pegar a bola ele ficou furioso. Não queria molecagem no seu quintal.

Os meninos insistiram e ele reclamou para o Júlio.

O Júlio começou se desculpando, mas, diante da arrogância do outro, revidou e acabaram brigando.

Irado o Fausto resolveu o problema. Ia comprar um cachorro bem grande e bravo.

Foi a uma loja de cães e escolheu o que, segundo o dono, era uma verdadeira fera.

Teve que retornar várias vezes para que o bicho o conhecesse e aceitasse como seu novo dono.

Quando chegou com o monstro em casa a mulher ponderou:
- Isto é um perigo! Se ele pegar uma criança vai machucar muito! Pode até matar!

Mas o Fausto estava determinado:
- Ele não vai sair de dentro do meu quintal. Quem se atrever a entrar terá o que merece.

A partir de então tudo se acalmou. As crianças não pularam mais o muro, nem ele encontrou bolas perdidas no quintal.

Numa tarde silenciosa, porém, ele ouviu um assobio no portão.

Abriu a porta, e lá estava um garoto com o nariz enfiado na grade.

Antes, porém que ele pudesse fazer qualquer coisa, a sua “fera” apareceu correndo com a bola na boca e entregou-a docilmente para o menino que acariciou sua cabeça enquanto ele abanava alegremente a cauda.

Comentários