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Publicado: Domingo, 11 de setembro de 2011

Brasileira entrevista Castaneda - 1996

Brasileira entrevista Castaneda - 1996

Castaneda, Luz e Sombra

No final dos anos 60, surgiu o livro “A Erva do Diabo” (original -The Teachings of Don Juan). Puro xamanismo tolteca escrito por Carlos Castaneda, um latino, estudante de Antropologia da UCLA – Universidade da California em Los Angeles. Ele foi pesquisar plantas de poder in loco e foi “fisgado” por um universo mágico, onde, o “brujo” Dom Juan, um índio yaqui de Sonora, México, lhe transmitiu um estranho ensinamento milenar sobre o homem e o universo. Tudo indica que D. Juan já “o esperava há anos” para encerrar uma linhagem milenar de xamãs e divulgar o segredo da tradição para o grande público, e a importância desse caminho de busca interior. Cartas marcadas pelos mistérios do Invisível.

Os livros venderam milhares de cópias, tornando-o famoso, mas o ensinamento, que seguiu à risca, previa uma disciplina contra a auto importancia (ego): apagar a sua história pessoal, fugir da mídia, não usufruir a fama, abandonar as rotinas de vida, não se expor. Por isso suas poucas entrevistas, como essa, são valiosas. A mídia americana, após endeusá-lo, não o perdoou por isso, e contribuiu juntamente com o FBI para apagá-lo persistentemente quando a juventude da época passou equivocadamente a considerá-lo, à sua revelia, como mais um ícone do movimento hippie de libertação, drogas e rock’n roll.

Castaneda seguiu à risca as orientações lançando cada vez mais sombra sobre a sua escassa biografia, embaralhando os dados da sua história.

Segundo reportagem da revista Time de 1973, Carlos Cesar Araña, seu verdadeiro nome, teria entrado nos Estados Unidos em 1951. E vinha da América Latina, nascido em Cajamarca no Perú em 1925, o que dá uma diferença de dez anos em sua incerta idade. Seu pai não seria um acadêmico como afirmava, mas um relojoeiro artesão chamado Cesar Araña Burungaray. Sua mãe Susana Castaneda Navoa teria morrido não quando ele tinha 6 anos, mas quando tinha 25.

Na entrevista que Castaneda concedeu a Patricia Aguirre, buscadora incansável dos ensinamentos de D. Juan, publicada em 1996 na revista Mais Vida da EditoraTres, ele conta porém, que nasceu no Brasil, em Juqueri (Cajamar), cidade próxima a São Paulo, em 1935. Patrícia checou se existe algum registro de seu nascimento na Comarca de Franco da Rocha, atual nome da cidade, e descobriu que até o destino parece conspirar a favor do segredo: uma inundação apagou todo e qualquer vestígio de quem nasceu nessa cidade antes de 1949. Há outras poucas entrevistas que oportunamente publicaremos.

“Questionar sobre a veracidade da minha vida, citando datas e registros, rouba a magia do mundo e afasta os marcos de todos nós”, alerta ele. O curso desse aprendizado foi se transformando em 12 livros com muitos milhões de exemplares vendidos em todo o mundo. Carlos Castaneda tornou-se então um novo “nagual” (termo que define a função do xamã junto a seus iniciados) na linhagem de Dom Juan.

Sempre envolto em mistério, Castaneda desapareceu em meados dos anos 70. Seu contato com o mundo se dava apenas pelos livros, sendo que “A Arte do Sonhar”de 1993, saiu após 6 anos de um longo silêncio.
No entanto em 95, voltou à tona realizando workshops para transmitir o conhecimento adquirido pela longa e intensa convivência com o feiticeiro Dom Juan. Foi no seminário realizado na Universidade de Los Angeles onde o “nagual” Castaneda estudou antropologia que minha amiga Patricia o entrevistou. Patricia relata que com extrema leveza e grande senso de humor, ele não parecia preocupado em vender imagem de guru nem de santo. Mas, coerente com uma as premissas dos ensinamentos que recebeu do xamã Dom Juan, fez questão de apagar a sua história pessoal, mantendo fora de alcance a sua vida privada. Mesmo assim conseguimos confirmar que, sim, o misterioso xamã e antropólogo, segundo o que disse, nasceu mesmo no Brasil.

A entrevista:

Patrícia Aguirre – Existem referências contraditórias sobre o local de seu nascimento, se foi no Perú ou no Brasil...

Carlos Castaneda – Eu nasci no Brasil, Em São Paulo, numa cidade chamada Juqueri. Por causa do sanatório mudaram o nome da cidade, que hoje se chama Branco da Rocha (corrijo o Branco para Franco, mas ele continua, sem dar muita importância). Perguntas desse tipo dão uma importância desmedida ao homem. Além do mais, Carlos Castaneda não existe. Dom Juan limpou tudo o que havia do homem Carlos, deixando-o apenas como o “possuidor” de um conhecimento. A capa não tem significado. A única coisa que interessa são as credenciais para a viagem em direção ao infinito e os dados vitais necessários: tripas de aço e culhões.

PA – O senhor permaneceu inacessível durante anos. Porque resolveu mudar essa condição e dar workshops?

CC – Não é mais possível um grupo se perpetuar em termos tradicionais. Não é mais possível ensinar um a um. Além do que nós somos o último elo de uma linhagem. É como se a fechássemos com cadeado. Como o próprio Dom Juan dizia, eu não tenho a mesma configuração energética que ele tinha, portanto tem que ser diferente. Ele também falava da fluidez, condição essencial do mundo. Nada no mundo do feiticeiro é permanente, assim como no nosso cotidiano também não o é, apesar de insistirmos em fixá-lo. Não podemos simplesmente ir embora com todo esse conhecimento. Acreditamos ter pouco tempo aqui e resolvemos assumir a responsabilidade de passar adiante tudo o que aprendemos, sem restrição, e a forma que encontramos é esta: grandes workshops públicos.

PA – No que os ensinamentos de Dom Juan diferem dos movimentos espiritualistas?

CC – Na força de seus atos. Nós não somos espiritualistas, somos extremamente práticos. Estamos interessados em tudo o que se refere à energia. Se, em última hipótese, somos energia, tratemos desta. Não estamos interessados em buscar Deus, os santos, a pureza...Aliás, no fundo, ninguém está realmente interessado em buscar, ou melhor, em fazer o básico – encontrar a liberdade total.

PA – E o que é a liberdade total?

CC – É a consciência de “ser” do homem, o existir livre dos conceitos, da cultura e do social. A liberdade é o lado sublime do homem. Os xamãs dizem que só há tempo de viver para a liberdade, pois somos seres a caminho da morte. A energia é irredutível e é com ela que temos que tratar. Somos seres temporais. Que falta de sinceridade conosco mesmos quando atuamos como se fôssemos seres imortais. Que pobreza de espírito a nossa.

PA – O que significa estar livre de conceitos

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