Brasília depura
Ao ver a fisionomia compreensivelmente abatida do senador cassado, na manhã de 11 de julho, ao deixar o plenário, qualquer brasileiro poderia perguntar, ao menos de si para consigo, se outros dos cinquenta e nove antigos confrades da casa de leis maior, seriam de todo inatacáveis por devedores de faltas semelhantes.
Já nem se cogita dos dezesseis votos contrários e das poucas abstenções.
De semblante obviamente triste, sereno embora ao que parecia, quase nele se poderia ler exatamente essa mesma pergunta, eis que conhece e bem a vida e o passado dos antigos colegas.
Esse aspecto é inquietante para qualquer cidadão, se bem refletido. A onda de corrupção que se alastrou sobre o país, nos últimos anos – que eterna ela já é mesmo – tanto pode por todas as esperanças de melhoria no chão, como quem sabe, abrir horizontes novos de decoro e respeito.
Um dos votantes, ao final, proclamou na saída, em tom solene, algo no sentido de que as ocorrências daquela manhã levam o país a uma profunda reflexão.
Daí é que justamente, por isso mesmo, nasceu o sentido da crônica.
Permita-se ampliar a invocação do nobre legislador, porque em verdade abre-se uma fileira interminável de reflexões. Não uma, somente.
A primeira delas, a do porque não se aproveitar do ensejo para uma tomada séria de objetiva depuração daqui para a frente?
Ocorre até uma curiosidade deveras estranha. Essa vaga no Senado será ironicamente preenchida pelo cidadão que fora casado com a atual senhora Cachoeira e que teria lá também seus pecaditos. Estranho esse liame, sem se falar no aspecto jocoso do fato.
A grande mídia comenta que houve um enorme alívio, após efetivada a cassação, por parte dos demais envolvidos na trama. Prova de mau odor porque quem não deve não teme.
Um dado também deveras estranho é saber-se que uma empreiteira, ao de repente, se assenhoreou sozinha de uma parcela por demais abrangente das obras de vulto no país, advindas do governo central. Agora, por conveniência, desligou-se delas, atitude que mais ainda a condena.
Brasil engraçado este.
A imprensa como tal se ocupa constantemente de desvarios sem conta com protagonistas de ação em Brasília.
Hora então de se questionar como ficam os cidadãos, que seriam os primeiros a merecer atenção daqueles que governam e conduzem?
A resposta é fácil e salta por si da mente para a boca do mais ingênuo dos homens: ficam como tem sido desde há muito, a desempenhar o papel de trouxas.
O povo, que ainda não aprendeu a votar, posa por ora como assistente passivo, inerte e sem meios de reação, ao cenário trágico de um velho espetáculo, velho porque de longa data conhecido e repetitivo.
As reflexões sobre o episódio desta data histórica de 11 de julho de 2012, se desdobrariam em muitas e muitas outras, ao infinito.
Fique-se com este pouco, que de si já é muito.
Brasília depura, mas o faz apenas timidamente.
De mais a mais, quando ainda nem terminou a efusão popular pelo brilho da grei corintiana semana passada, na mesma noite de 11 de julho o Palmeiras se sagrou campeão da Copa do Brasil, frente ao combativo Coritiba e se inscreve automaticamente na Libertadores vindoura.
Festa de novo.
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- bernardo campos