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Publicado: Sexta-feira, 5 de setembro de 2008

Carisma, Estofo, Moral

Lembro-me, com que admiração, minha saudosa mãe, italiana, se referia à Getúlio Vargas, por ter sido ele, entre outras iniciativas, com defeitos e com méritos, o pai no Brasil da legislação trabalhista. Tem-se dito, fora ele o último dos estadistas.
 
Em plena Avenida Nove de Julho, em São Paulo, o magnífico desfile e, nele, a certa distância, da calçada, vejo passar a figura carismática de Juscelino Kubitschek de Oliveira, em pé, em carro aberto. Simpatia, personalidade, carisma.
 
Uma das maiores emoções de minha vida, com outros companheiros, ter visto o Papa João Paulo II passar bem a nossa frente, na sua chegada no Campo de Marte, na primeira vinda ao Brasil.
 
Numa tarde, de outra feita, por avistar uma das dezenas de igrejas do Recife, entrei para breve oração. Estava-se em meio à santa missa e um venerando sacerdote se ocupava da homilia. Pequenino, suas palavras e o conteúdo do que dizia – o som chegava aos fundos, mas quase não se via o celebrante – despertou minha atenção e adiantei-me. Ninguém mais do que Dom Helder Câmara. Admirado, ele, de todos e desde sempre, entendi que não se operara ali uma coincidência, e sim uma graça de Deus, por uma surpresa tão feliz. Isso ficou muito claro.
 
Mesmo em Itu, conheci desde pequeno a pessoa amável do Dr. Chebel, médico humanitário, bem ao estilo dos de outrora. Convivi muitas horas com ele, como funcionário da Câmara, ao seu tempo de vereador, 1956 a 1960, na seqüência de um mandato modelar como prefeito desta cidade. Um dos poucos políticos, a merecer tal nome. Exemplo de visão, descortinio, probidade. Inigualável, até hoje. Dr. Felippe Nagib Chebel, modesto, provou que para ir à frente, ser líder, nem é preciso ser falante.
 
Cito assim de minha experiência pessoal apenas dois ou três nomes de tantos outros do passado, mas me recordo que havia noutros tempos personalidades em razoável número, nos quais o cidadão pudesse se inspirar. Hoje, em sã consciência, padece a sociedade da falta de nomes que a liderem, dêem-lhe esperança ou ânimo. Todo leitor, ao menos os de mais idade um pouco, saberá mencionar outros que lhes tenham tocado de perto, pela sua hombridade e liderança.
 
Diga-se justamente do vácuo que ficou no país, nos últimos anos, sem um ponto de direção e de arrimo por parte de quem pudesse fazê-lo, alguém capaz de sensibilizar os brasileiros. Descrédito do povo em todas as instituições, mesmo aquelas outrora as mais importantes. Um senador, certa feita, enfatizou por lançar em tom mais elevado de voz, uma pergunta no ar: a de quem, por exemplo, acreditaria no próprio Congresso, no PT, no PMDB, no PSDB, em qualquer partido enfim. No final, em tom como se fora de desânimo e falta de perspectiva, esse tribuno falou com todas as letras que o povo, hoje, não tinha nenhuma referência no país a que se apegar. Falta de referência. Tanto que, - continuou ele - os brasileiros se esfalfam no trabalho, na longa jornada diária e de retorno à casa, pressurosos, se extasiam apenas diante das novelas que os empolga, a única chama que os atrai. O pior, sentenciou, que, à falta de exemplos vivos, o povo se identifica no enredo com os espertos, safados e com os bandidos, nos seus golpes. Os honestos, os bons, são vistos como trouxas e bobos.
 
Apropriem-se enfim nesta crônica a idéia e um pensamento, o da quase completa inexistência de líderes. Vive-se o presente sem qualquer projeção para o amanhã, se é que a esse imenso vazio seja correto definir como vida.
 
Sem dramatismo, no final desta curta consideração, volta-se cada um a perguntar a si mesmo, quais os nomes ou o nome pelo menos de maior carisma no Brasil, atualmente, em qualquer área. Suficientes para interessar o povo, nos quais se possa confiar, capazes de polarizar as atenções e acordar o povo brasileiro do marasmo. Desses da têmpera dos citados na abertura.
 
Pergunta que o prezado leitor pode também fazer a si próprio.
 
A quem atribuir, plenamente, essas premissas de que seja ele um homem de carisma, estofo e moral?
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