Chorar e sorrir
Quem escreve, o faz por gosto, que com o tempo se transmuda em vigorosa paixão. Opinião de escriba do interior, sem remuneração, jornalista embora. Crônicas ditadas pelo diletantismo. Retalhos inspirados no cotidiano.
Outros, profissionais, embora tenham renda, faz-se supor que igualmente se apaixonem pela escrita. Só assim para se explicar a ousadia, em verdade muita coragem, de se exporem, eles também, com uma opinião só e exclusiva, pessoal enfim, oferecida no entanto ao incontável número de leitores, mesmo com saber-se que cada cabeça, uma sentença.
Na abrangência de uma única crônica, Lia Luft, cronista quinzenal da Veja (edição 2238, 12.10), capta toda uma infinidade de considerações sutis, a lamentar no fundo de como está perdido o homem, sem rumo nem direção e, ainda, sem peias. Degeneração de costumes e práticas outrora inimagináveis. Sinceramente, no confronto para a insignificância do texto desta coluna semanal, vontade real seria a de ceder o espaço para transcrever página tão verdadeira. Por mais extensa, porém, nem aqui caberia. Daí que, faz melhor, quem possa ter acesso àquele trabalho.
Em meio a múltiplas considerações e lamentos, a queixa declarada naquela pergunta, de em quem iria hoje votar o eleitor? Algo que, embora ali não mencionada, fica implícita na mesma questão, a absoluta falta de lideranças aqui e no mundo, em que mesmo a se contar nos dedos, praticamente quase que não se acha mais um nome inatacável e de expressão.
Outro desabafo dela, de quase desespero, a absoluta falta de em quem confiar nos dias de hoje...
O pseudo fenômeno da criança moderna, ciente de particularidades íntimas, que somente se vinham a conhecer na idade adulta. Os pequeninos as mencionam com a maior naturalidade e existem adultos que ainda nisso acham graça.
A experiente autora já sofreu críticas quanto a que seria um tanto repetitiva. Entende-se que se reporte a temas batidos. Pois não avulta exacerbadamente a cada dia a insensatez, a incúria, a corrupção com garras mais afiadas do que nunca? Não há sinais, mesmo remotos ou à distância, de que se vai por cobro a balbúrdia. Tem ela razão.
Como a desordem é geral, aos jornalistas não há como evitar que se detenham deprimentes considerações.
Vejam a realidade. No dia 12 de outubro a imagem do Cristo Redentor no Rio de Janeiro, completou oitenta anos de sua edificação. No mesmo embalo de uma vibração tão calorosa e feliz, misturam-se as manchetes caracterizadoras dos impressionantes índices da criminalidade nos morros circunstantes, praticamente ao pé do vetusto monumento.
Dá para chorar e rir ao mesmo tempo?
Em suma, ideal mesmo é que os leitores “vejam a Veja”.
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- bernardo campos