Coincidência? Que nada!
Não sei de outro alguém, como eu, obstinado em alardear que as chamadas coincidências de fato não existem.
Afirmo e insisto.
O que acontece é que, entre um fato e outro, algo ocorre de inesperado, ao que automaticamente se atribui ser, assim chamada – coincidência.
Em verdade, toma-se a decisão de algo e se dá andamento àquela iniciativa. Isso apenas.
Mas, tempestivamente, nesse meio tempo, medeia algo imprevisto, quase sempre de importância relevante e inesperada.
Para explicitar melhor: fui comprar batatas na feira e, de repente, adquiri laranjas em maior quantidade, doces de fazer gosto. Vai-se e volta e, de entremeio, a segunda compra significou muito mais.
Há, portanto, que se dar nome correto a essas falsas coincidências.
Representam sim e muito mais, verdadeiras e providenciais ocorrências. Algo notável e imprevisto, além de significativo.
Pois bem.
Tive que me hospedar em São Paulo, com vistas a uma viagem, com saída de lá no dia seguinte, bem cedo.
Arriscar ir, de madrugada que fosse, no mesmo dia, seria correr riscos, se não pelo trânsito, por um caso fortuito.
Com essa providência, deparei-me com um tempo livre, na Capital.
Após instalado, saí do hotel, este muito próximo da Igreja de Nossa Senhora da Consolação, bem ali. Já lhe avistara a torre de longe, no momento da chegada e nem dei maior importância ao fato.
Mas, agora, a pé e descontraído e ainda sem rumo certo, disse de mim para comigo:
- Por que não ir até a igreja, que não visitava há tanto tempo?
E aí começou a surpresa, transformada aos poucos em deslumbramento. Constatei que nunca atentara a pormenores; ela, tão retocada de adornos e imagens que, com o silêncio, compunha uma agradabilíssima sensação de paz.
Estava em obras, reparos ou restauro, máquinas modernas a elevar os profissionais à altura da abóboda, escadas e materiais de uso. Isso tudo, entanto, não empanou o brilho de cada detalhe, desta vez visitados todos os recantos, um a um.
Magnífico, o altar mor. No alto, a inscrição: Consolatrix afflictorum.
Era de ver de fato a postura de fiéis aqui e ali, senhoras na maioria, em oração recolhida.
Mais um pouco, um encantamento ainda superior a tudo que vira: de uma aura serena, a convidativa Capela do Santíssimo, exposto este, provavelmente em adoração permanente ou ao menos diurna. Guardado por um outro pequeno grupo de adoradores, compungido, a dar ao ambiente um clima ainda de maior contemplação e respeito.
Sim, estive em São Paulo, por um dia, solto e sem objetivo mais definido. Ora, essa aparente coincidência foi a mais providencial das surpresas e, aqui para mim, o ponto alto do dia.
Eu não ficara em São Paulo para esperar o dia seguinte. Essa, somente, a ideia inicial.
Naquela manhã esplendorosa e inesquecível, a providência reservara para mim uma ocorrência muitíssimo mais importante.
Para isso, em verdade, estivera ali.
Coincidência, que nada!