Colunistas

Publicado: Terça-feira, 8 de junho de 2010

Com Fiança e Estéril

Há algum tempo meus pais foram vítimas de um golpe. Perderam um bom dinheiro, ludibriados por um grupo de golpistas bastante bem estruturados.

Quando eu soube fiquei muito frustrado por eles e corri para dar meu apoio. Surpreendentemente encontrei os dois calmos e serenos. Logo eu comecei a discorrer de como eles jamais poderiam ter feito as coisas daquela forma, pois não se preocuparam com garantias e confiaram apenas na palavra de alguém. Tranquilamente minha mãe me disse: Eu prefiro confiar. Às vezes pagamos o preço, mas prefiro viver a vida apostando nas pessoas do que duvidando delas.

Eu percebi naquele momento que meus pais não eram tão ingênuos. Eles optaram viver a vida vibrando uma forma de ser positiva e honesta. Confiando no caráter dos outros. Isto implica neste risco. Na incerteza que, por vezes, cobra seu preço. A cada vez que a honestidade se mostra presente nas relações e a confiança deles encontra apoio na honestidade do outro lado, eles se nutrem e nutrem um mundo melhor.

Fiquei pensando na dinâmica das empresas em geral. O modelo mais comum e crescente é o modelo da desconfiança. O processo parte da não confiança e, ao redor dela, constroem-se processos para criar garantias, ou, ao menos, para criar uma ilusão de segurança. Isto não acontece apenas nos acordos e pagamentos, pois quando algo é impregnado na cultura de uma organização, começa a manifestar-se em todas as suas vertentes. A busca pelo seguro começa a ditar o andar das coisas. Empresas já conhecidas, com processos já conhecidos e testados são a preferência na maioria dos casos. Processos inovadores, não experimentados, conduzidos por empresas novas têm pouca chance de ganhar algum espaço. Quando conseguem, é às custas de inúmeras concessões.

Acho que este modelo é extremamente empobrecedor. Primeiro porque permite aos profissionais que eles se livrem da responsabilidade de tomar uma decisão e arriscar. Com o tempo isto cria pessoas menos interessantes e internamente enfraquecidas. Assumir os riscos de decisões que terão, sim, conseqüências, é importante para o crescimento. O segundo ponto é que, seguindo processos tão “seguros” a capacidade de inovação de uma empresa é gigantescamente reduzida. Ela torna-se uma organização pasteurizada. Estéril. E isto não é muito animador.

Por fim, meu pensamento vai aqui em forma de uma pretensiosa sugestão para pessoas e organizações. Apostem com risco, pois é só apostando no desconhecido que temos a chance de viver as mais intensas emoções, crescer e fazer as mais interessantes descobertas. E, acreditem, o mundo está precisando de reinenções.

Comentários