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Publicado: Domingo, 27 de dezembro de 2009

Começa 2010

Começa 2010
A vida que queremos é a vida que fazemos

Mais um ano se vai e com ele nossas tristezas e frustrações, devendo permanecer a esperança e o desejo de renovação. Aliás, os ritos de passagem foram criados pelo homem exatamente por isso: eles nos invadem do poder de transformação; tão necessário à vida humana. 

Celebrar as datas festivas, sejam elas vinculadas à fé religiosa ou a tradição cultural, significa manter-se encantado com a vida e, sobretudo, capaz da compreensão de que “a gente não quer só comida, a gente quer comida, diversão e arte. A gente não quer só dinheiro, a gente quer dinheiro e felicidade”, como cantam os Titãs.

Construir, cultivar e manter o verdadeiro sentido dos ritos de passagem é papel da família. E mais uma vez, sem medo de me dizerem repetitiva, volto ao tema para que fique claro que responsabilidades familiares são intransferíveis e que valores e afetos são praticados entre seus pares. Porque só assim, poderemos fazer nossas escolhas conscientes, sem culpas e cobranças futuras. Não dá, por exemplo, para esperar que os filhos, quando crescidos e distantes, valorizem a união familiar em datas simbólicas se isso não foi vivenciado quando ainda eram pequenos. Também não dá para esperar colo e consolo nos momentos duros da vida, como a falta de dinheiro, desemprego, doença ou simplesmente a velhice e suas implicações, que já são muitas, se aos filhos ensinamos que amor se expressa com presentes caros e que férias em família se faz com viagem ao exterior. 

A vida em família não é fácil. São muitas as cobranças e as expectativas. Educar os filhos, um risco constante: “as palavras com que envenenamos o coração de um filho, por mesquinharia ou por ignorância, ficam guardadas na memória e mais cedo ou mais tarde lhe queimam a alma” (Carlos Ruiz Zafón). A teimosia endurecida, o individualismo exagerado e o desejo egocêntrico se revelam mais fortemente entre as quatro paredes, porque é no contexto familiar que retiramos as roupas e as máscaras usadas no mundo de hoje. Mas também por isso nos tornamos mais amáveis, frágeis, sinceros e carentes. A alegria de um, a tristeza do outro, a mágoa e a revolta de muitos se misturam e, se não estivermos atentos e comprometidos, se perdem na rotina da casa, nos impedindo de enxergar os sentimentos de quem está ao nosso lado. E de quem tanto amamos. 

Lya Luft publicou recentemente um livro recheado de histórias familiares, revelando remorsos, culpas e sofrimentos de pessoas que diante dos conflitos familiares se calaram quando deviam se comunicar e falaram demais quando, na verdade, deviam silenciar. “O silêncio dos amantes” é um livro provocador, nos alertando sobre o cuidado e o respeito com as pessoas que amamos, com os filhos que geramos e com a família que construímos. Afinal, ainda que pareça frase de efeito dogmático, não há colheita sem semeadura. Não há casamento feliz e filhos educados sem fortalecimento do amor dia após dia, ano após ano - sem desistir jamais.

Então, para que possamos viver um 2010 mais aberto ao sentimento, desejo que possamos cada vez mais amar as pessoas incondicionalmente; respeitar o sentimento dos outros; enxergar além das aparências; acreditar na família e, fundamentalmente, entender que a vida que queremos é a vida que fazemos. 

Feliz 2010!

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