Como anda o futebol
A prática do futebol é uma modalidade de esporte extremamente prazerosa, tanto para quem joga como para quem assiste. Noutros tempos, um entretenimento vinculado somente ao sexo masculino. As mulheres vieram aos poucos, torcedoras no início e influenciadas certamente por amigos e familiares para, ao depois, imiscuirem-se em algumas brincadeiras com a bola e finalmente chegarem como hoje ao profissionalismo.
O Brasil, desde o infortúnio de 1950, ao entregar a Copa do Mundo aos uruguaios em pleno Maracanã, puro acidente e coisa típica do futebol, - a sua imprevisibilidade,- aos poucos galgou essa privilegiada e que parecia posição tão cômoda, a de ser penta campeão, recuperado pela vez primeira em 1958 na Suécia. Pelé que o diga, o menino Pelé de então!
Ganhava-se dinheiro naquela época. Sim, mas não como hoje em que craques são negociados como se fossem mercadoria por cifras astronômicas. Jogava-se talvez muito mais por amor à camisa, sem desprezo ao numerário, sem a existência contudo de milionários daqueles tempos.
Opera-se todavia, nos últimos tempos, uma profunda transformação do futebol. Os europeus, outrora de cintura rígida e chuteiras à moda de verdadeiras botinas, além de times de outros continentes, aos poucos aprenderam a amolecer os músculos e agora, como os daqui, dão também seus saltos mortais e piruetas depois dos gols marcados.
A metamorfose futebolística ganhou enfim notoriedade maior, a partir de uma autêntica profissionalização e de administrações sérias, desvinculadas de cartolas e desvios de finalidades. Tem sido a regra no primeiro mundo.
As mudanças aconteceram também – ah que pena! – dentro dos campos. Dominador do futebol arte, cadenciado, o Brasil foi sobrepujado pelo futebol força. A compleição dos de lá não se compara com a dos futebolistas deste lado do mundo. Tanto que craques que aqui se destacam, uma vez transferidos, começam pela reformulação de todo o seu arcabouço físico.
Sobrou para a gente daqui o acompanhar dos campeonatos locais e regionais e também de âmbito nacional. São tantos que se confundem nos programas de sábados, domingos, quartas e às vezes nas quintas feiras.
E aí vem, neste começo de ano, confirmado e destacado, o modo como pode até fenecer o ânimo das torcidas, aos poucos. Não faz tempo, no final ficavam classificadas e iam às finais, os clubes famosos de sempre em seus respectivos estados e cidades. Não será preciso citar nomes.
Os grandalhões, os famosos, os de torcedores numerosos, os bem conhecidos, deles sobrou a equipe santista. E não sabe até quando...
Esta conversa despretensiosa vem a propósito, porque é deveras contristador saber que não haverá milagres de futuro, porque os clubes de futebol de outras plagas se aprimoram na mesma proporção e velocidade daqueles que aqui definham.
Para provar essa decadência, mostrou-se que se trata de recurso inútil recolher aqui como figurões, futebolistas que do primeiro mundo são mandados de volta ao Brasil, a esperar-se deles o milagre de salvadores da pátria.
Por isso mesmo que nos comentários e rodinhas da área, surgem as exclamações de admiração, muito lógicas por sinal, de entusiasmo por este ou aquele jogo travado na Espanha, na Inglaterra, na Itália e na Alemanha, em virtude de sua vitalidade e do futebol rápido e consequente, aquele que leva a bola a entrar no pequeno espaço dos estádios gigantecos, formado pelo travessão e pelas traves, a que se chama usualmente de gol.
Antes de encerrar, mais um registro, este também de 1950: naquela Copa o Brasil vencera a Espanha, atual campeã do mundo, por seis a zero!
No mesmo torneio, verificou-se também, como curiosidade, a eliminação da Inglaterra pela desconhecida turma dos Estados Unidos, pelo placar de um a zero.
Foi o azar dos azares.
Coisas do futebol.
A decisão entre Brasil e Uruguai, aliás, feriu-se exatamente no dia 16 de julho de 1950, a coincidir exatamente com o horário da procissão em louvor de Nossa Senhora do Carmo, monumental à época. Os seminaristas, o autor entre eles, curiosíssimos no final da tarde e começo da noite, de volta para o colégio, foram pressurosos ao rádio instalado no páteo. Que decepção!
O Brasil tinha perdido. Difícil de acreditar.
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- bernardo campos