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Publicado: Sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Conto de Natal / 2009

Conto de Natal / 2009

Deus te abençoe. 
Os Alencar Coelho se inscreviam na honrosa listagem das mais tradicionais e conservadoras famílias, da então pequena cidade de Albuquerque.
 
A própria denominação que aquela comunidade adotou, revela o quanto se prezavam ali nomes e pessoas. José Diamantino de Albuquerque, um próspero fazendeiro no município, benfeitor emérito do lugar, dois anos após o seu falecimento, como homenagem dos seus conterrâneos, emprestou seu nome ao lugar, outrora conhecido como Queimada.
 
À época destes fatos, Albuquerque, mais desenvolvida, contava com uma população que poderia ir de quinze a vinte mil habitantes. Distante da capital e também nada próxima de outro grande centro, dispunha de um único cartório, cujo escrivão, o bacharel Renato Alencar Coelho, por isso mesmo, era visto como autêntica e respeitada autoridade.
 
Estava à frente de praticamente todos os eventos e, embora não primasse por uma religiosidade participativa, cristão, ao menos acompanhava as festas da única paróquia existente. Fazia exceção, no entanto, à data do Natal, que para ele sagrada. Em dezembro se esmerava no comando desde os adornos de ruas e praças, até a decoração interna e externa da própria Igreja Matriz. A Prefeitura lhe punha à disposição os trabalhadores e todo material necessário.
 
Se assim era dedicado, o sr. Renato, para com os interesses da própria Albuquerque, é de se imaginar o aparato da reunião em família para festejar a data maior da cristandade. E esse congraçamento particular, só começava após a chamada Missa do Galo, uma tradição atualmente muito modificada e diferente.
 
Ele, a esposa, os filhos, no banco da frente. Dos quatros filhos, dois já casados e, portanto, com as respectivas esposas. Um casal, inclusive, já presenteara os avós com os netinhos, Hélio e Priscila, de quatro e seis anos.
 
Pela primeira vez, apesar de toda aura do Natal que tanto o encantava, o sr. Renato, bem à frente durante a missa, não conseguia esconder um certo mal estar que o martirizava. Seu semblante, de hábito alegre e com um sorriso até já esboçado, compunha-se naquele ano de uma certa preocupação, que não o deixava à vontade.
 
A verdade é que o filho mais velho e a esposa, tinham vindo com os filhos, apenas por respeito aos pais e sogros, eis que estavam separados de fato havia três meses.
 
A comemoração em casa, a mais íntima, não seria completa, porquanto tanto a nora como o filho, cada um por sua vez, em particular ao sr. Renato, tinham deixado claro que não compareceriam à ceia. Mandariam alguém levar as crianças.
 
Surpreso ficou o povo, ao ver filho e nora do sr. Renato a ladearem o menino Hélio e a Priscila, durante a cerimônia religiosa. Afinal esse inesperado desenlace dera o que falar na cidadezinha. Os cochichos foram inevitáveis. Será que voltaram?
 
À saída da Igreja, os pais vieram se despedir das crianças e recomendar que se portassem direitinho na casa dos avós.
Surpreendentemente, conquanto não tivessem combinado nada entre si, os pequeninos bateram o pé e declararam que sem o papai e a mamãe eles não iriam. Criou-se um embaraço constrangedor.
 
Se o coração do sr. Renato já estava partido com a anunciada ausência do filho e da nora, esse velho coração pararia de bater se nem ao menos os netinhos não fossem à sua casa.
 
As crianças venceram.
 
Embaraçados, pai e mãe, a contragosto, cederam. Um alívio para o sr. Renato e para todos os membros da família.
 
Como num passe de mágica, a circunspeção geral transmudou-se para uma aura do mais puro regozijo.
 
A ceia de Natal transcorreu como nos melhores tempos se fazia, com um carinho sincero e recíproco de todos e com uma profunda reverência ao caráter eminentemente religioso dessa data, tantas vezes ofuscada pela mera comilança e até pela falsa alegria ocasionada pela intemperança nas bebidas.
 
Madrugada alta, chegou a hora de uns e outros retornarem às suas respectivas residências.
 
Um fato, entretanto, tinha escapado a todos os familiares, amigos e parentes, inclusive ao próprio sr. Renato. Dias antes, sua fiel esposa e companheira, com a sutileza própria das mulheres, procurara tanto o filho como a nora, ele hospedado temporariamente num hotel de cidade vizinha. Ocorre que a causa daquela separação nem fora tão grave. Num repente e depois para não ceder a um orgulho tolo, ele e ela, que se amavam, dariam tudo para reatar a feliz vida de casados. O fato, porém, é que aquela incômoda situação já se prolongava em demasiado. Paciente, calma, sem imposição, dona Alba, sentiu que faltava um quase nada para a reconciliação. Entretanto, ainda que moídos por dentro pelo desejo do retorno, nem um nem outra tomariam a iniciativa de pedir desculpas. Empedernidos.
 
Enfim, como se falou, chegara o momento de cada qual retornar à sua casa. E a mamãe chamou os filhos para perto de si. Eles não obedeceram. Olharam para a mamãe e, virando-se, o mesmo olhar dirigiram também ao pai. Este se fazia de distraído e ainda mantinha conversa com outras pessoas, mas bem que notara o jeito dos menores. Sem meneio de cabeça, mas com a vista bem dir
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