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Publicado: Sábado, 31 de outubro de 2009

Contratação mais que difícil

Aquela empresa multinacional resolveu adequar-se à legislação vigente. Entre outras providências tomadas, a diretoria decidiu disponibilizar as devidas vagas de emprego para pessoas com deficiências físicas.

No departamento de Recursos Humanos, o Sr. Almeida ficou responsável pela seleção e contratação dos vários candidatos. Depois de um mês entrevistando e selecionando, restou apenas a vaga de office-boy.

Ser office-boy não é fácil. Quem já foi, sabe como é. Uma certa agilidade é necessária para locomover-se, seja a pé ou de bicicleta. É preciso ter paciência para pegar senhas e enfrentar filas, pagar contas e retirar extratos, levar e trazer malotes, etc., etc., etc.

Acabou que, depois de 30 dias, a vaga de office-boy ainda não havia sido preenchida. Em diversos setores da empresa havia malotes para serem entregues, cartas para serem despachadas, contas para serem pagas. E tudo se acumulava a cada dia.

O Dr. Pacheco, chefe imediato do Sr. Almeida, cobrou-o pela falta de resultados. O fato é que estava extremamente difícil encontrar um deficiente físico para a função, atendendo assim a cota exigida por lei.

Certa manhã, o Sr. Almeida trabalhava em sua mesa quando viu a porta do escritório abrir e fechar sozinha. Pensou estar maluco, mas reparou um pigarro logo à frente. Esticou a coluna para fora da cadeira e percebeu que um anão havia entrado.

O cidadão de baixa estatura estava sabendo da vaga para Office-boy e queria o emprego. “Onde é que já se viu, office-boy anão?”, pensou o Sr. Almeida. Mas a situação era crítica e o Dr. Pacheco já estava com a paciência no limite.

Ciente da extrema necessidade por parte do contratante, o anão fez uma porção de exigências. Queria um patinete motorizado, pois não alcançava os pedais de uma bicicleta. Queria um salário acima da média e um vale-alimentação de maior valor. “Pequeno sou eu, não o meu estômago”, alegou.

O candidato não tinha bom grau de instrução. Disse que só conseguiu terminar o primário com muito esforço, pois seu antigo trabalho no circo tomava quase todo o seu tempo. Decidiu abandonar os picadeiros no dia em que o mágico o convidou a participar do truque do serrote na caixa de madeira: achou desaforo querer partir ao meio alguém que já não tinha tamanho inteiro.

Para completar suas referências ruins, o pequeno grande homem ainda disse ao Sr. Almeida que fumava, bebia durante o expediente e de vez em quando tirava alguns dias de folga por conta própria.

“Por qual razão o senhor acha que eu devo contratá-lo?”, quis saber o Sr. Almeida. “Porque não preciso pegar fila em bancos, lotéricas ou repartições”, argumentou o anão. 

Era verdade. Afinal, o Sr. Almeida não se lembrava de ter visto, uma vez sequer, qualquer anão na fila do banco. O baixinho arrematou: “E fique sabendo que anão vai ao banco sim! O senhor também nunca viu enterro de anão e nem por isso somos eternos!”.

Vencido mais pela necessidade do que pelos argumentos, o Sr. Almeida contratou o anão, preenchendo a vaga de office-boy. Vez ou outra se arrepende da contratação, mas pelo menos o Dr. Pacheco o deixou em paz.

Moral da História: “Dos males, o menor”.

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