Convivendo com a convivência
Diz um ditado que as pessoas com as quais não convivemos são maravilhosas. Parte disso é verdade, pois conviver é aprender a enxergar. Na convivência somos obrigados a visitar lados escondidos, esquecidos, apagados, ocultos, mas presentes.
Conviver é o que desejamos fazer com as pessoas que amamos. É por esse motivo que os namorados se casam, os filhos trazem alegria ao lar, os amigos viajam juntos. Conviver é dividir momentos, compartilhar dores e alegrias, fazer parte de uma engrenagem de relacionamentos. Portanto, é o que sempre queremos fazer.
No entanto, muitas vezes a convivência, se não cuidada, pode matar a pureza. Por isso é necessário ter coragem para encará-la. É preciso aprender sobre a nossa própria sombra, pois na convivência acabamos nos incomodando com os defeitos dos outros – defeitos esses que mais têm relação com o nosso aprendizado.
Na convivência somos chamados a olhar o sonho com mais maturidade, ver bem de perto os nossos desafios de mudança, nossas imperfeições e vazios.
Se não fazemos isso, passamos nossos dias com o dedo apontado para o nariz de nossos entes queridos, tornando os momentos chatos e incômodos, bem diferentes do que sonhamos um dia.
Conviver com as pessoas que amamos – parceiros, filhos, pais e amigos – é uma prova difícil. Por maior que seja o amor e por maior que seja a saudade, conviver é uma escolha que deve ser feita com sabedoria.
A convivência escancara nossa sede de poder, nossa superioridade e arrogância. Por essa razão, quando optamos por conviver com as pessoas que amamos e que nos amam, estamos também escolhendo o mais lindo caminho para o autoconhecimento e para a prática do amor incondicional.
Podemos escolher viver sozinhos, ter poucos relacionamentos, poucos amigos, poucas palavras. Certamente serão menores as expectativas, as decepções, os conflitos. No entanto, serão igualmente menores os sabores das conquistas, das descobertas, da intimidade compartilhada. Podemos ter um jardim sem flores, para nos livrarmos dos espinhos. Mas e o delicioso aroma das flores?