Corinthians penta: um roteiro digno de cinema
Última rodada do Brasileirão. Clima tenso para todos os torcedores das equipes envolvidas. As horas que antecedem o apito inicial parecem lentas, quase uma eternidade. O torcedor mais despreocupado hasteia a bandeira do seu time, coloca uma música e toma uma cervejinha enquanto a carne assa. As ruas parecem mais movimentadas do que o normal. Os rojões ajudam a compor um cenário de pura tensão, que só virá a acabar com apito final do árbitro.
É nesse apito que o torcedor extravasa. O grito de "é campeão" não o contenta. Os mais impronunciáveis palavrões são ditos nessa hora. É o momento em que até o mais tímido se solta.
E coube ao torcedor do Corinthians esse privilégio. Após sete meses de espera, o alvinegro pode dizer com todas as letras: P-E-N-T-A-C-A-M-P-E-Ã-O. A história do título corintiano é muito interessante, parece ter sido escrita por um criativo roteirista de Hollywood. Recém-eliminado da Libertadores ainda na primeira fase e vice-campeão Paulista, o time de Parque São Jorge entrou na disputa do Brasileirão sob a desconfiança da Fiel torcida.
Sem um elenco de alto nível, com jogadores limitados e um técnico que até então não havia demonstrado a segurança necessária, o Timão era dado como carta fora do baralho. Mas, para a surpresa de todos, o início de campeonato do time foi avassalador, conquistando várias vitórias seguidas. Essa sequência positiva (a chamada "gordura extra") ajudou - e muito - na conquista da taça.
Mas, como em todo bom roteiro, sempre existe a figura do antagonista. Caberia esse papel ao Flamengo, embalado com as boas atuações de Ronaldinho? Até uma parte do campeonato, sim. No entanto o clube da Gávea não demonstrou ter competência para esse papel, que acabou caindo nas mãos do Vasco, que apresentou uma atuação digna de Oscar na Copa do Brasil.
O cruzmaltino foi o time que jogou mais futebol. A taça estaria em excelentes mãos caso a equipe carioca a conquistasse. Lembrou aqueles filmes em que o coadjuvante tem mais destaque que o protagonista, mas o roteiro já havia sido traçado para que este se dê bem no final. As coisas conspiravam para o Corinthians. Gols nos minutos finais, derrotas vindo quando eram aceitáveis e atuações convincentes na reta final firmaram o Timão como o favorito ao título.
Ainda relacionando cinema com futebol, quis o destino que um dos maiores ídolos corintianos, Sócrates, morresse no dia da decisão, hisória que nenhum roteirista escreveria. Uma tristeza sem fim, mas que motivou ainda mais os jogadores e torcedores para o jogo final, contra o arquirival Palmeiras. A singela homenagem no Pacaembu, onde todos levantaram os braços com o punho cerrado (em referência às comemorações do Doutor), foi de arrepiar.
Dentro de campo, um jogo feio e truncado. O Verdão foi até melhor, mas o Timão soube se defender bem e jogou "com o regulamento embaixo do braço". Enquanto os mais de 35 mil torcedores presentes no estádio paulistano sofriam na espera do fim da partida, no Rio de Janeiro Vasco e Flamengo empatavam. Pronto. O título já estava decidido antes mesmo do jogo do Corinthians ter acabado.
Pela Fiel. Para o Povo. Por Sócrates.
Um time sem um destaque, pois o destaque é o próprio time. A união. A coletividade. A "titebilidade".
Corintiano costuma dizer que não vive de títulos, vive de Corinthians. Eu não concordo. Corintiano vive de Corinthians e títulos. Sofridos, mas indiscutíveis.