Criança tem que ser criança
Tal preocupação muito me incomoda como educadora profissional e, sobretudo, como mãe. Também são muitos os especialistas que se dedicam a pesquisar o assunto. Tanto que, ao longo da minha história, já hipotetizei e ensaiei diversas teses até compreender que os limites, determinando o “sim” e o “não”, o que “pode” e o que “não pode” às crianças, devem ser colocados com firmeza e objetividade pelos adultos. Não só pelas músicas espalhadas sem pudor e que ferem os ouvidos e o coração, mas também ao acesso e à participação da vida adulta. O tempo de ser criança é curto demais se comparado ao tempo de ser adulto e só por isso a afirmação de que criança tem que ser criança já se sustenta com legitimidade.
Embora a juventude não aceite, na vida tudo tem seu tempo e sua hora... Não colhemos o fruto da árvore antes dele oferecer seu suco doce e prazeroso. Fruta verde é azeda e sem gosto. E os adultos são os principais responsáveis por essa colheita, afinal, reconhecem com experiência um bom amadurecimento. Ou pelo menos é assim que deveria ser. Certo? No entanto, não é o que vem ocorrendo neste mundo apressado e de permanente anseio pela novidade; e o que presenciamos é absurdamente preocupante.
Há pouco tempo, um respeitável veículo de comunicação registrou o drama das meninas que aos 16 anos já são consideradas velhas no submundo da prostituição. Sem distinção de cor, classe social e etnia, crianças se vestem de mini-adultos, cantam, dançam ao som de gente grande e ainda participam da sexualidade adulta com muita naturalidade. Batons, mini-saias, botas, desfiles de modas e gírias invadem os pequenos inocentes com absoluta facilidade.
Será a infância um mero ensaio da vida adulta? E que vida adulta?
Não é raro ouvirmos como resposta das mamães indagadas sobre as roupas justas, curtas e desconfortáveis usadas pelas filhas, que a escolha é feita pelas próprias crianças. Mas quem compra as roupas que estão no armário? Sim, porque criança não é independente. Há sempre um adulto realizando, ou não, seus desejos. Até porque, zelar pela saúde emocional e social do filho é dever dos pais e para isso é importante saber diferenciar desejo de necessidade. Comprar um tênis pode ser necessidade de um calçado, mas comprar aquele tênis da marca tal é puro desejo. E desejo é o que devemos aprender a controlar se quisermos garantir a formação de pessoas equilibradas e felizes.
Cadê a delícia de sujar a cara de caramelo, lamber os dedos e pular amarelinha? Cadê a canção infantil, os vestidos de babados, os bermudões, as bonecas e os carrinhos?
A infância da humanidade está sendo roubada e os culpados não são as crianças.