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Publicado: Domingo, 20 de setembro de 2009

Criança tem que ser criança

Criança tem que ser criança
Cadê os bermudões, as bonecas e os carrinhos?

Recentemente uma mãe expressou-se indignada, através de um manifesto publicado num jornal local, quanto às músicas de letras indecentes exploradas (pasmem!) nas festinhas das escolas. 

Tal preocupação muito me incomoda como educadora profissional e, sobretudo, como mãe. Também são muitos os especialistas que se dedicam a pesquisar o assunto. Tanto que, ao longo da minha história, já hipotetizei e ensaiei diversas teses até compreender que os limites, determinando o “sim” e o “não”, o que “pode” e o que “não pode” às crianças, devem ser colocados com firmeza e objetividade pelos adultos. Não só pelas músicas espalhadas sem pudor e que ferem os ouvidos e o coração, mas também ao acesso e à participação da vida adulta. O tempo de ser criança é curto demais se comparado ao tempo de ser adulto e só por isso a afirmação de que criança tem que ser criança já se sustenta com legitimidade. 

Embora a juventude não aceite, na vida tudo tem seu tempo e sua hora... Não colhemos o fruto da árvore antes dele oferecer seu suco doce e prazeroso. Fruta verde é azeda e sem gosto. E os adultos são os principais responsáveis por essa colheita, afinal, reconhecem com experiência um bom amadurecimento. Ou pelo menos é assim que deveria ser. Certo? No entanto, não é o que vem ocorrendo neste mundo apressado e de permanente anseio pela novidade; e o que presenciamos é absurdamente preocupante. 

Há pouco tempo, um respeitável veículo de comunicação registrou o drama das meninas que aos 16 anos já são consideradas velhas no submundo da prostituição. Sem distinção de cor, classe social e etnia, crianças se vestem de mini-adultos, cantam, dançam ao som de gente grande e ainda participam da sexualidade adulta com muita naturalidade. Batons, mini-saias, botas, desfiles de modas e gírias invadem os pequenos inocentes com absoluta facilidade. 

Será a infância um mero ensaio da vida adulta? E que vida adulta?

Não é raro ouvirmos como resposta das mamães indagadas sobre as roupas justas, curtas e desconfortáveis usadas pelas filhas, que a escolha é feita pelas próprias crianças. Mas quem compra as roupas que estão no armário? Sim, porque criança não é independente. Há sempre um adulto realizando, ou não, seus desejos. Até porque, zelar pela saúde emocional e social do filho é dever dos pais e para isso é importante saber diferenciar desejo de necessidade. Comprar um tênis pode ser necessidade de um calçado, mas comprar aquele tênis da marca tal é puro desejo. E desejo é o que devemos aprender a controlar se quisermos garantir a formação de pessoas equilibradas e felizes.

Cadê a delícia de sujar a cara de caramelo, lamber os dedos e pular amarelinha? Cadê a canção infantil, os vestidos de babados, os bermudões, as bonecas e os carrinhos?

A infância da humanidade está sendo roubada e os culpados não são as crianças.

 

 

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