Crise de fé?
“E esta é a vitória que vence o mundo: a nossa fé.” (I Jo 5,4)
Respeito. Confiabilidade. Credibilidade. Muitos de nós ainda se lembram do tempo em que a regra era acreditar nas pessoas; confiar nas instituições, nas autoridades, nos políticos e governantes; tempo em que as promessas eram cumpridas, os compromissos honrados; tempo em que palavra dada era palavra mantida. A qualquer preço. Vivemos nesse tempo e fomos educados assim. E não faz muito tempo.
Mas isso vem mudando e, ao lado de coisas boas, a modernidade e o progresso trouxeram também muita coisa ruim.
É triste é ver que as crianças são orientadas para enfrentar esse mundo incrédulo, materialista... Perdem desde cedo algumas de suas preciosidades: pureza de sentimentos, espontaneidade, honestidade, sinceridade...
Mas sempre há esperanças; precisamos resistir e criar oportunidades para que voltem à tona aqueles valores. Não há dúvida que é muito mais fácil e saudável acreditar, confiar.
E a nossa Fé? Teria sido ela igualmente atingida? Será que essa vida moderna está conseguindo interferir até no sagrado, no sobrenatural? Se, entre nossos semelhantes, encontramos justificativas para não acreditar, em relação a Deus, isso não se verifica. Deus continua sendo o mesmo: fiel, acolhedor e pronto para nos ajudar. Assim, a explicação para nossa falta de fé só pode ser encontrada do nosso lado...
Se é difícil viver sem acreditar, é quase impossível viver sem Fé. O homem necessita de algum ponto de apoio seguro. Não são poucas as situações em que o humano, o material falha restando apenas o sagrado, o divino para nos socorrer. Por isso é fundamental que a Fé seja alimentada e fortalecida, já que não “aparece” ao estalar dos dedos ou como passe de mágica.
A fé “remove montanhas”, faz milagres! Se não vemos isso acontecer, podemos pensar que realmente estamos vivendo uma crise de fé. Mas, por que isso? Se todos recebemos a semente da Fé no nosso Batismo, podemos fazê-la florescer a qualquer momento.
Ter fé significa crer no Cristo; mas não basta apenas crer no pensamento ou no coração; não basta ter uma fé abstrata, filosófica, inerte; precisamos aceitá-lo e praticá-lo. Ele quer nossas ações, nossas obras, segundo seu modelo de vida, seus ensinamentos, sua vontade; Ele quer fazer parte da nossa vida.
A fé é caminho para a santidade.
Vamos percebendo que muita coisa depende da fé: homem novo, vida nova, família nova, nova sociedade, um mundo novo.
São muitos os cristãos batizados; são muitos os católicos, freqüentadores das missas. Entretanto são poucos os católicos praticantes, que assumem sua crença, apesar das dificuldades e dos resultados nem sempre animadores.
A fé alimenta a esperança e estimula a caridade; concordamos, pois, com São Tiago quando afirma que “a fé sem obras é morta...”. Parece, portanto, que não se trata propriamente de uma crise de fé, mas de uma crise de vida de fé, de uma fé mais ativa, produtiva, capaz de quebrar as correntes da acomodação, do indiferentismo, do relativismo, do egoísmo, do individualismo, feridas graves de nossa vida moderna.
Tal crise de fé pode explicar muitas das nossas ansiedades, dificuldades e sofrimentos.
Ao que vemos, o homem moderno está deixando o sagrado de lado e coloca suas esperanças em coisas que iludem mais do que realizam; coisas passageiras, fúteis, decepcionantes.
Ter fé é acreditar no milagre da força humana, na força dos seus pequenos gestos e das pequenas coisas.
Ter fé é acreditar na força do amor, da solidariedade, da compaixão.
Somos os construtores do futuro: aceitaremos a ajuda de Deus ou vamos querer fazer tudo sozinhos?
À maneira dos primeiros discípulos, pedimos hoje: “Aumenta-nos a fé”, para que possamos mudar a nossa vida, a vida de nossas famílias, mudar a Igreja, a sociedade e o mundo.