Cronistas
Permita-se a ousadia e no entanto a plausível intenção de trazer um comentário a respeito da presença dos cronistas nos jornais, desde muito tempo, desde sempre.
Área em que atuaram, só para se ter ideia, um José de Alencar e Machado de Assis.
O estilo que marca o gênero das crônicas é peculiar e específico. Não será dizer de mais, só nesse exemplo. O de serem festejados não somente pela qualidade de romancistas, José de Alencar e Machado de Assis, mas certamente também pela sua presença habitual no rodapé dos jornais, como era praxe da época, num tom embalado pela liberdade e leveza que a modalidade concede. Sem a fixação das reportagens ou do rito estudado dos editoriais.
Essa temática se abre num leque de tal amplitude que, além de virmos hoje com a abordagem desse tema, ele se abriria em um desdobramento de variados enfoques.
Interessante que a maioria dos cronistas, com o tempo, acaba por enfeixar em livros os papos soltos do cotidiano.
Os Melhores Contos de Rubem Braga, dele, que estreou como jornalista aos 15 anos. João do Rio, pseudônimo usado pelo escritor e jornalista carioca João Paulo Alberto Coelho, escreveu: A Alma Encantadora das Ruas. Carlos Drummond de Andrade, entre seus livros: Fala, Amendoeira. Carlos Heitor Cony, de nossos dias, compilou boas crônicas: O Tudo e o Nada. E quem não se deleita com entregar-se aos escritos de Luis Fernando Veríssimo? Entre seus livros: O Melhor das Comédias da Vida Privada.
Está vendo o leitor que as citações se prendem a um mero enunciado de poucos nomes num repertório fértil e farto, para todos os gostos.
Capta-se bem o intento das mensagens dos cronistas, porque eles não receiam ou, pelo contrário, ousam dar vaza aos sentimentos seus e assim “... trabalhar mais com as impressões do que com a realidade dos fatos...”, um estado de espírito em suma.
Com maestria, presente às vezes certa irreverência, com graça e tato, e sempre num estilo todo seu, o cronista divaga pelo cotidiano, é um suposto distraído nas andanças pelas ruas e nos pontos de encontro, para na verdade dar sua opinião num acontecimento importante do dia ou do passado, abordar a postura de um nome famoso e até encontrar palavras para falar de uma simples casca de banana que não se cuidou de acomodar devidamente no lixo. Divagar, quiçá, até sobre a falta de assunto, a transformar essa aparente falta no assunto propriamente dito.
De passagem, se acrescente, que, no ramo e nesse meio, uma eventual “falta de assunto”, corresponde muito mais à dificuldade para escolher ou optar por determinada ideia, o que ocorre justamente pela abundância de como as inspirações afluem, talvez desordenadas, por serem tantas.
A maneira dos cronistas foge por completo dos jornalistas de áreas diversas e restritas. As páginas de turismo, negócios, política, economia, coberturas e reportagens. Por exceção, conquanto comentarista econômico por excelência, Joelmir Betting sabia por tempero nas notas que escreveu, mediante comparações sutis e alfinetadas oportunas, com o que se aproxima muito do fraseado das crônicas.
Um dia, talvez, a gente volta, na mesma tecla.