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Publicado: Segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Culturas de Paz, Culturas de Guerra

Lá vamos nós aos conflitos novamente…


Cada vez mais percebo como é difícil estabelecer uma postura pacífica para lidar com conflitos. A maioria das pessoas simplesmente desaprendeu a fazer isso, e caem na dinâmica da gangorra entre certo e errado. Todos pulam do conflito para o confronto, como se fosse este o único e mais lógico caminho. E não acho que seja.


Quando estive na Índia presenciei uma cena que me chamou muito a atenção. Embarcando no Expresso Rajastani, um trem que cruza a Índia do Rajastão, ao Norte, até Mumbai, Centro-Sul do país, comecei a observar uma discussão. As passagens para este trem não eram baratas, e eu estava no vagão intermediário. Não era o mais caro, mas também não era o mais barato. O preço, mesmo para mim pareceu alto, quanto mais para a Índia, onde tudo é bem mais barato do que as referências que temos.


A discussão derivava de uma situação muito simples. Dois passageiros tinham tickets para a mesma poltrona. Isto em uma viagem que dura quase 30 horas. O responsável do trem chegou e a discussão seguiu. Evidentemente havia um erro da Cia de trens, afinal, os dois tinham os bilhetes em mãos.


Após cerca de meia hora a solução dada me chocou. Ambos viajaram dividindo o lugar. Sentaram lado a lado, bem próximos para que coubessem na poltrona. De noite, dormiram na mesma cama estreita, sem malícias ou raiva. Aceitaram a situação, e enquanto eu tentava digerir o conformismo, ambos viajaram sem brigas entre eles, conversando e trocando idéias durante todo o percurso. Naquele momento percebi como estamos distantes de uma cultura de paz. Para nós, ocidentais, na grande maioria, esta situação é inconcebível, pois estamos treinados a lidar com o problema, não com a solução. Tendemos a gastar toda a energia em definir um culpado e, cheios de raiva, clamamos por uma solução em que o dito culpado seja penalizado. Ninguém quer ceder em nada e, provavelmente, todos perdem algo. A grande armadilha é que aprendemos a justificar as coisas dizendo o que está certo e o que está errado. Em muitas situações, pelo simples exercício espiritual e mental da paz, esta questão poderia tornar-se irrelevante na construção de uma solução.


Por fim, me lembrei desta situação ao ver ontem uma nota dizendo que as vítimas dos atentados de Mumbai, na Índia, onde centenas foram assassinados por terroristas há alguns anos, estão lançando um livro pregando o perdão aos terroristas. O perdão é poderoso, e beneficia, principalmente, aquele que perdoa. Mas estamos longe de aprender a fazer isto, e precisamos muito aprender e treinar, pois somente o treino do corpo, da alma e do espírito para lidar com isto pode efetivamente transformar. E creio que estamos precisando de algumas transformações.
 

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