Dançando o sonho
Fui lá, convidada por uma grande amiga que é secretária de saúde da cidade de Porto Feliz. O local era uma escola, onde estava ocorrendo a III Conferencia Municipal de Saúde, com a presença de 200 profissionais que atuam na saúde pública de Porto Feliz. Minha tarefa era ajudar na integração do grupo, através das Danças Circulares, para que eles estivessem bem para os trabalhos da tarde. Eu tinha pouco mais de meia hora pra isso.
O que são 30 minutos? Não parece muito. Mas na verdade, um pequeno instante é suficiente. Depende o que fazemos com ele. Confiei no grupo e no poder das Danças Circulares. Confiei que a roda é maior do que cada um de nós, ao mesmo tempo em que expande o melhor de nós. Confiei em todas as emoções que brotam dentro de um círculo. Confiei nas mãos dadas, perpetuando a invisível corrente do “dar e receber” ao longo das gerações, entre todos os povos.
Como parte da atividade matinal da conferência, uma árvore feita de alumínio representava em suas folhinhas de papel verde o desejo de cada participante em relação ao seu trabalho e ao SUS (Sistema Único de Saúde). A árvore foi colocada pela minha amiga no centro da roda. Ideia feliz. Dançamos em volta desses desejos individualmente coletivos. E não é de se espantar que o que eu li naquelas folhas ia de encontro ao que nós, das Danças Circulares Sagradas, também buscamos: respeito, acolhimento, humanidade, amor, paz. Ou, quem sabe, vá de encontro ao sonho coletivo da grande rede humana, independente de atuação profissional, raça, idade, nível econômico ou qualquer outro rótulo que nos separa. Quando o sonho genuíno está no centro da vida que circula, gregos e troianos podem se dar as mãos e dançá-lo. Então ele se expande, rodopia, mostra caminhos, convida, alegra, acolhe.
Foram minutos preciosos, simples, ritmados, que produziram um som único e coletivo. Passeamos pelo Brasil, Grécia e Estados Unidos e percebi que também nesses países o sonho é o mesmo. Seja na saúde, na educação, aqui ou acolá, no fundo, temos um sonho urgente de uma vida digna para todos, na qual podemos ser aceitos e aceitar as diferenças e limitações, sem as fronteiras que nos separam. Berço da paz e do amor. Dar as mãos, olhar nos olhos, sorrir, aprender junto, compartilhar desafios e sentir que estamos apoiando e sendo apoiados no caminho pode ser um passo significativo na dança da vida.
Não é por acaso que, durante a dança, um relógio caiu do pulso de uma das pessoas da roda. Talvez para nos lembrar que o tempo do relógio é urgente e importante, mas não é único. Existe um outro tempo. Que não nos esqueçamos dele! É o tempo onde podemos - apesar de todas as obrigações diárias - dançar o nosso sonho. O tempo do “aqui, agora, hoje e sempre”. Mesmo em apenas 30 minutos.