De próprio punho
A escrita manual saiu de uso, a tal ponto que aprendizes após o evento da internet, muitos deles jamais chegarão a se destacar pelo fato de ter boa letra. É de pouca ou nenhuma relevância esse detalhe
Surgiram aos poucos as máquinas. Desde as primitivas, de tecla única, que você movimentava de um lado para outro e só calcava, uma de cada vez, sobre a letra desejada. Além do mais, essa não teve a evolução igual a inventos modernos que, de novos hoje, se fazem vencidos amanhã. A máquina de escrever mudou bem devagar, a ponto de aquela dotada de eletricidade se constituir por muito tempo numa obra prima.
Com o advento da informática, essa fiel companheira virou relíquia. Hoje o linguajar é eminentemente técnico e privativo de poucos na sua interpretação: pc, software, HD, placa-mãe, desktop, del, web e mil outros que tais.
Bom lembrar, no entanto, que o recurso virtual tão celebrado e útil, para não dizer indispensável, de qualquer modo nasce do toque dos dedos e por sobre um teclado, o mesmo recurso usado nas máquinas de escrever, agora tidas como velharia.
Deseja-se por hoje apenas contemplar a escrita manual, a mesma que serviu a todos, séculos afora. De ordinário, as crônicas agora, são digitadas diretamente.
Fica-se a pensar nos autênticos luminares da literatura, nacional e estrangeira, fecundos na produção de livros, simplesmente manuscritos. A propósito, que qualquer escriba moderno não se acanhe do uso da tecla “del”, eis que os autores de antanho, corrigiam e emendavam à vontade seus escritos. Por sinal que o verbete deletar está mais do que incorporado ao linguajar pátrio.
Apesar de tudo isso, não haja acanhamento de revelar o prazer de apor a própria caligrafia ao papel, algumas vezes. Principalmente – como muito já se comentou aqui – quando em praças de alimentação, mesmo que se trate até de meras lanchonetes, ser utilizado o verso do papel que forra as bandejas. Agradável devaneio esse de deixar que crônicas surgidas ao léu sejam criadas ali, ao sabor das ideias e das mais difusas inspirações. Funde-se o mister de tecer a crônica com o prazer de tomar da caneta e exercitar a caligrafia. Agradável, deveras agradável, escrever de próprio punho.
É fora de dúvida, bem se sabe, que na descontração de redigir crônicas, ao improviso e rascunhadas ao repente, também se reconhece e se concede o favorecimento da velocidade proporcionada por um teclado, o depositário virtual das velozes digitações. Pela digitação instantânea, o pensamento e a escrita seguem a cavaleiro um da outra. Enquanto que aqui, com temas grafados manualmente, às vezes o pensamento se adianta muito à escrita. Ele corre e ela anda. Algumas inspirações, nesse descompasso, talvez fiquem para trás, sem o aproveitamento, ao menos naquela hora.
Ocorre também perscrutar se as cartas românticas e bilhetes apaixonados de outrora não perderam o seu encanto, com o abandono gradativo do hábito de escrever à moda antiga.
É bem possível.