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Publicado: Terça-feira, 22 de abril de 2008

Descaso Isabella

Crédito: Banco de Imagens Descaso Isabella
Com o que escolhemos sintonizar a cada momento?
Dia 22 de Abril é Dia do Planeta Terra. Quantas pessoas estão sabendo? Quantas reportagens você viu na grande mídia? Será que você será estimulado a pensar no que o cuidado com a terra tem a ver com a sua vida? E estamos no Ano do Planeta!
 
No dia 19 de Abril comemoramos o Dia do Índio. Você sabia? Parou para refletir sobre questões como uso indiscriminado do poder, colonização dos mais “fracos” e perda de identidade?
 
Vou dizer sinceramente uma coisa: fico até mesmo frustrada por você ter clicado nesse artigo. Tenho quase certeza que se o titulo falasse da terra ou dos índios, muitos não clicariam. Notícias assim não causam interesse, não atraem o grande público. “Não dá Ibope”, diriam alguns.
 
Então, escolhi esse título para chamar a atenção mesmo. E no meu pequeno espaço, compartilhar com você, leitor, um sentimento que tem me incomodado mais e mais a cada dia: o descaso Isabella.
 
Não é possível que um assunto como esse seja tão fundamental na vida de milhões de brasileiros, a ponto de ser veiculado em toda a mídia nacional, todas as horas do dia. Não é possível que seja essa a principal conversa da grande massa de pessoas que, como fantoches, se misturam na tragédia com passividade e hipnotismo.
 
Nas escolas, as crianças comentam o assunto em rodinhas e muitas já dão sinal de pânico. Uma verdadeira epidemia. Presenciei adultos em estado catatônico em frente à TV, assistindo mais e mais detalhes do caso, com pitadas extremamente saborosas de violência, terror e sofrimento. Muitos adultos, sem perceber o impacto que tal notícia gera em seus filhos ou em outras crianças, deixam as imagens e conversas entrarem tranquilamente em suas casas, como convidadas principais.
 
Isabella virou filha, neta, amiga, vizinha de todos os brasileiros. Transformou-se em protagonista do imaginário das crianças, personificação das injustiças do mundo, deusa da infância. E eu pergunto: por quê? Para que?
 
De forma alguma quero minimizar essa tragédia. Meu desejo para essa menina é que ela esteja em paz, seja onde for. Infelizmente, essa história, assim como muitas outras, esfrega em nossa cara a triste verdade: temos ainda muito que fazer para que o mundo se torne um local de paz e de amor. Mas a minha questão é outra: o que cada um de nós escolhe propagar? Com o que queremos nos conectar? Somos tão passivos a ponto de aceitar que a mídia decida o que entra em nosso lar e o teor de nossas conversas?
 
Tudo no universo é vibração. Nós sintonizamos aquilo que conectamos. Se ouvirmos uma música de rock, em poucos instantes estaremos sintonizados nesse ritmo, com o corpo pedindo para dançar. Se assistirmos infinitas imagens sobre o caso Isabella, em instantes estaremos imersos nessa freqüência, banhados por sentimentos de medo, injustiça, raiva, pavor e horror. Pior: estaremos propagando isso para cada pessoa que estiver ao nosso lado. Na prática, o que isso ajuda?
 
Lembro que a mesma comoção nacional ocorreu com o caso João Hélio, o garoto do Rio de Janeiro que também teve um triste destino causado pela violência urbana. Na época, a indignação nas ruas era a mesma. Até o momento em que a grande mídia deixou de fazer alarde. E assim, todos esqueceram. Faça o teste: entre no google e digite “caso João Hélio”. Veja quantas notícias desse tema foram publicadas em 2008. Agora projete esse assunto em um futuro próximo. O que você acha que vai acontecer?

O “Descaso Isabella” é grave, assim como os outros que aconteceram e que fatalmente acontecerão. Trata-se de uma conivência com a violência, no momento em que escolhemos nos conectar com ela e ingenuamente propagá-la. Trata-se também do desrespeito com o ser humano, independente do fato de ser culpado ou inocente, na medida em que bisbilhotamos suas vidas como se fosse nosso direito. Trata-se igualmente de um desamor à vida, quando insistimos em olhar e difundir imagens de horror, sem que isso tenha um propósito verdadeiro de melhorar o mundo a nossa volta.  
 
O “Descaso Isabella” é na verdade um descaso com a confiança, com a fé e com a beleza. E com a possibilidade de sonhar. Acima de tudo, é um descaso em relação a nós mesmos, quando aceitamos ser menos do que somos. A vida nos é dada para grandes coisas. A decisão de fazer uma verdadeira diferença está em nossas mãos, aqui e agora, a cada instante. Escolha.
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