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Publicado: Sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Desprenda-se das amarras

Não se comece com o jargão clássico de que se o costume de oferecer conselhos fosse valer de alguma coisa, eles não seriam distribuídos graciosamente.

Mas aqui se teima em repetir alguns deles, mesmo porque se não se investe dinheiro propriamente nesta leitura, gasta-se tempo, mínimo que seja.

A propósito, sem exagerar nem para puxar a brasa para a sardinha da gente, é um preço (tempo) sabidamente módico que você despende por algo de real utilidade. E tudo que se aqui se publica, é de conteúdo selecionado.

A todo homem, aos quarenta, se aconselha sim que consulte um urologista, porque o câncer da próstata está para ele como o do útero e o da mama para a mulher. Se na casa dos cinquenta, quem merece visita é o cardiologista.

Por que, mesmo sem sintomas, se há de procurar um médico de tais especialidades? Ora, por causa da sabedoria destes tempos e dos avanços das pesquisas. Modernamente, recomenda-se que as primeiras visitas no terreno da saúde o sejam de preferência enquanto tudo vai muito bem, obrigado. Atitudes estas, proclamou certa feita médico amigo, de primeiro mundo.

Não se elogia aqui, absolutamente, o extremo oposto de quem se perde e se martiriza nas garras da hipocondria. Parente próximo do fármaco dependente.

Do ponto de vista comportamental, os clientes se sentem apequenados diante dos ilustres médicos e, destes, os há de todos os modos e características. Quando sisudo, o paciente ainda mais se acanha. Na maioria, os profissionais da saúde, os doutores em especial, sabem como receber e, dentro do possível, aliviar as dores e os males físicos em geral de seus pacientes.

Existe, - como não? – o médico descontraído e que deixa as pessoas muito à vontade e se torna relativamente amigo, se o tratamento é longo.

Isto tudo se está a dizer, por causa de uma dessas pessoas, no caso dermatologista, que acabou por explicar e expor que viver estressado poderia ser a causa dos sintomas apresentados pelo cliente.

Foi a essa altura que a conversa saiu do campo fechado, absoluto e às vezes nitidamente atropelado, para que ele próprio, o profissional declarasse sua experiência e decisão.

Confidenciou que, com alguma idade já, tratara de afastar de seu dia a dia tudo quanto fosse imposição ou mera imitação daquilo que as outras pessoas fazem à sua volta. Elegera, disse, o domingo como o seu dia. Para ficar bem à vontade e dedicar-se ao que lhe agradasse apenas: ouvir música, estar descalço, ler, sem presa para despir o pijama, uma indumentária com a qual tranquilamente passeava no jardim interno de sua casa. E daí por diante.

Outra regra de ouro, dessa criatura diferente. A de não se sujeitar àquilo de que não gostaria, desde que com isso outrem não seja prejudicado. Deu o exemplo de algumas festas de aniversário, aquelas tediosas e de final da tarde, com prejuízo até do futebol vespertino ou da soneca tranquila. Agora, conforme o caso, compro e mando entregar um presente mas não vou, explicava.

E não há de ver que, com essas tiradas, o seu cliente vibrou.

Que coincidência!

O consulente passou a esse profissional que também ele de uns tempos para cá, tomara decisão igual ou parecida. Essa surpreendente revelação de alguém sensato e experiente, caíra como uma luva a aprovar a mesma tese, vinda afinal de contas de uma autoridade.

Aposentado, ainda com algumas atividades, proclamou sua própria independência, para se dedicar somente àquelas que lhe fossem de inteiro agrado. Estava, por exemplo, rigorosamente condicionado a levantar-se às seis para sem atraso ser o primeiro a chegar à academia de ginástica. Por quê? Sim, continua a frequentá-la, porque entende necessária e imprescindível ao próprio bem estar, agora entanto sem hora fixa para chegar.

Com essa pertinácia, hoje sente-se realizado, porque dedica um tempo ao nada fazer, ficar à toa, ensimesmar. Descobriu que era extremamente agradável retirar-se para algum local aberto, jardins, campos, parques, - para simplesmente à sombra de uma árvore, descansar, pensar e... por que não?, sonhar.

A idade tem suas condicionantes, claro. Nunca lhe seja ela porém um algoz furibundo ou um títere, ambos dispensáveis. Aqui entra um adendo singular e importantíssimo, o de não vir-se nunca vítima do mau comportamento alheio ou da falta de classe de terceiros. Sem a obrigatoriedade de aceitá-los e sem a maldade de ignorá-los acintosamente, deixe-os relegados ao que são por si mesmos.

Desprenda-se das amarras.

Liberte-se.

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