Publicado: Sábado, 21 de abril de 2007
Deus é Mendigo
Os membros da Pastoral do Dízimo costumam repetir uma frase com o objetivo de conscientizar os fiéis a respeito de colaborarem com suas campanhas. Diz assim: “Dízimo não é esmola, pois Deus não é mendigo”. Está certíssima. Realmente o Senhor não precisa dos nossos bens materiais. Mais importante é o sentido da oferta, que deve ser espontânea e consciente. E não obrigatória, extorsiva e alienante, como se pratica em alguns lugares que ousam denominar-se “igrejas”, verdadeiras exploradoras da fé de gente inocente.
O dízimo tem uma função muito prática e espiritual. Praticamente, serve para atender à manutenção das nossas comunidades religiosas. A Igreja não é isenta de impostos, tem que pagar normalmente seus fornecedores, funcionários e despesas. Sem a colaboração dos fiéis, seria impossível. Os que freqüentam missas e sentem-se parte da família que é a Igreja, compreendem tudo isso. Os que encontram a Igreja sempre de portas abertas e pronta para servi-los sabem que aquilo tem um custo material inevitável para quem vive em um mundo como o nosso.
Assim, “pagar” o dízimo (melhor seria dizer “colaborar”) é nada mais do que uma retribuição daquilo que recebemos por parte de Deus e de sua Igreja. É doar de coração uma parte do que temos, mesmo que ela seja pequena. Como no caso da viúva que ofertou sua única moeda, o que importa não é o tamanho da oferta e sim o tamanho da boa ação de quem colabora.
Olhando por outro lado, Deus é mendigo sim. E em duas situações bem específicas. Se não quer nossos bens materiais, pois não precisa deles, Deus vive a pedir a nossa atenção. Às vezes, quando passo pela Matriz da Candelária e vejo o Santíssimo Sacramento exposto na capela, imagino como Jesus fica ali diariamente mendigando o nosso amor, mendigando alguns minutinhos da nossa atribulada existência para que fiquemos ali com ele, no aconchego da igreja, no silêncio e na oração.
Quem mendiga não tem medo de pedir. E Jesus também não tem medo de pedir a nossa presença diante dele. Parece até que o Mestre precisa mais de nós do que os discípulos do Mestre. De fato, Jesus precisa do nosso amor e da nossa devoção. O Jovem de Nazaré sabe que somente ao lado dele poderemos encontrar a verdadeira felicidade. Quer nos ver felizes e louvando as maravilhas do Senhor.
Deus também é mendigo quando conseguirmos enxergá-lo na pessoa de um irmão que sofre jogado nas ruas. Feito um leproso da sociedade moderna, é jogado para as periferias das cidades. Como se fosse um lixo jogado debaixo do tapete, é escorraçado para debaixo de ponte e viadutos. Como um monumento de bronze que vive ao relento, sob chuva e sol, também o mendigo vive sujeito às intempéries e constitui-se no vergonhoso monumento do nosso descaso para com os nossos semelhantes.
Sim, Deus é mendigo. Principalmente quando um desses andarilhos bate à nossa porta nos pedindo um prato com comida, um copo com água, um agasalho velho, um remédio para gripe ou dor de cabeça. Quem nos ensinou isso foi o próprio Cristo: “Tive fome e me destes de comer, tive sede e me destes de beber, estava nu e me vestistes, doente e me visitastes”.
Deus mendiga o nosso amor no plano espiritual e mendiga os nossos bens materiais na pessoa dos menos favorecidos (e por que não dizer simplesmente “favorecidos em nada”?). De toda a sabedoria do mundo, toda a tecnologia e bens materiais, nada restará. Tudo passará, uma hora ou outra. A única coisa a permanecer será o amor. O amor que dedicamos a Deus e aos nossos semelhantes, principalmente aos que mais precisam.
Dar o dízimo, dar amor a Deus, dar aos pobres o que necessitam, são retribuições pequenas a tudo o que Jesus faz em nossas vidas. Que ninguém se deixe fechar pelo egoísmo e pela insensibilidade. Que não nos esqueçamos nunca dessa grande lição: você pode não precisar de ninguém, mas muitos sabem que precisam de você.
Amém.
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