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Publicado: Segunda-feira, 31 de outubro de 2016

Devagar com o andor

Devagar com o andor

Desafio de uma segunda-feira sombria.

Sombria?

Por que?

 Chove? O sol queima demais? Muito frio, talvez?

Sombria porque se abre um novo ciclo semanal, outrora longo e alongado com tempo e calma para quaisquer empreitadas, na contraposição da azáfama de dias atuais.

Desaprendeu-se de viver.

Corre-se atrás de tudo e sem parar. Pior ainda, ao longo dos dias, essa e aquela obrigação nem chegam a ser cumpridas.

Este tipo de afirmação e digressão, no fundo e na essência, é inútil. Mesmo assim, no mais profundo dessa constatação, teimo em dizer que o atropelo desarticulou aquilo que o homem outrora conduzia com serenidade e coerência.

A própria maneira de se expressar, ao dizer-se precisamente o homem isso e o homem aquilo, passou a ser tomado como machismo. Qualquer literatura decente e ainda não ultrajada pela imposição de modismos, sabe perfeitamente que essa referência é genérica e abrange todo ser humano, de ambos os sexos. Algo como o que se denomina na alta literatura de plural majestático.

Poucos talvez tenham percebido, mas na forma escrita exatamente em documentos, livros, papéis e campanhas nascidos, com referencial destacado nominalmente a cada sexo, entre outros, surgiu primacialmente em papéis da Igreja Católica, lá em Brasília, originados na Conferência Nacional dos Bispos do Brasil. Sob a forte influência das dedicadas freiras e consagradas, ali entregues ao departamento de comunicação. Caso concreto dos folhetos das missas de preceito; a modalidade em dizer-se “irmãos e irmãs”. Tal como se outrora se afirmasse nesses papéis que se referiam e se destinavam somente aos de sexo masculino.

Realmente, não me ocorre o começo da adoção dessa tendência, noutro lugar.  Aliás, para bem ilustrar, não consta que os famosos sermões do Padre Antonio Vieira tenham tido essa preocupação.

Salvo engano, a partir daí o sistema se generalizou.

Agora, dói mesmo e cala fundo, os senhores candidatos políticos, homens e mulheres, começarem sua fala com dizer: “A todos e todas”.

Seja perdoada a sinceridade, mas a esse ponto se revela profundamente o quanto de formação geral falta a quem assim procede. Uma prática que não mais se poderá corrigir à vista de tanta generalização.

É notório na mesma linha de pensamento de como a prática do bom senso foi suprimida de vez, com “achismos”, improvisações e invencionices. Quando não  por simplificações ridículas e... perigosas, isto quando não permeiam até o sagrado e consagrado.

Não seja nem por sombra ou por imaginação que aqui se pregue ingenuamente o culto apenas do que seja puritano ou ultrapassado.

Trata-se de voltar também, muitas vezes, para aquilo que se chama “bom- senso”.

As procissões percorrem as ruas lentamente e de modo organizado, tanto que delas surgiu o adágio clássico - “devagar com o andor”.

Mais aplicável ainda, esta outra verdade:

“Nem tanto ao céu, nem tanto à terra”.

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