Dia dos avós: Meu amigo, quanta hipocrisia!
"Quer viver seus avós, seus pais, viva-os agora, amanhã será muito longe." (SSM)
"Tudo que é falso é ruim, até mesmo a roupa emprestada. Se seu espírito não combina com sua roupa, está sujeito á infelicidade, porquê é deste jeito que as pessoas se tornam hipócritas, perdendo o medo de agir mal e de dizer mentiras" (Ramakrishna).
Surpreendo-me com a chamada da NET sobre o “Dia dos Avós”.
E surpreendo-me mais ainda com os comentários hipócritas a respeito deste “tão importante dia”.
Mas como pode haver tanta hipocrisia!
Quem são os avós brasileiros em sua grande maioria, senão cuidadores de crianças que não são suas, sem qualquer remuneração?
Quem são os avós brasileiros, senão devedores de empréstimos do INSS, que não foram usados para seu lazer ou para sua melhoria de vida?
Quem são os avós brasileiros, em sua grande maioria, senão números em filas incontáveis de Postos de Saúde mal cuidados, sem recursos e sem médicos, senão pontos perdidos em filas de farmácias populares, sem remédios e sem bondade, senão corpos abandonados à própria sorte, em macas improvisadas nos corredores dos infindáveis prontos-socorros do SUS?
Quanta santa hipocrisia!
Quem são os avós brasileiros que, mesmo sem condições, trabalharam noite e dia, sol a sol, para educarem seus filhos, e agora continuam trabalhando para educar os netos e, não raras vezes os bisnetos, em um turbilhão sem fim?
Quem são os avós brasileiros, e estrangeiros também, senão pessoas esquecidas o ano todo, e lembradas através dos “Faces” da vida, sem face, sem afeto, sem sentimento?
Quem são os avós brasileiros, senão pessoas usadas e abusadas por corruptos e corruptores, em um vai-e-vem de malandragem e pilhagem?
Quem são os avós brasileiros, senão seres humanos abandonados e esquecidos, já que não podem mais levar netos para as tantas e quantas escolas, não podem mais pagar as inúmeras contas, das quais não fizeram conta, e que ficaram para trás...
Quem são os avós brasileiros, senão homens e mulheres que já não podem ir à praia, ao campo, ao churrasco, porque não conseguem mais se movimentar direito, com desenvoltura?
Ora, ora, meu amigo, para que tanta hipocrisia?
Pelo menos não fale do assunto!
Quantas vezes você, que me lê agora, levou seus filhos para uma visita os avós, mas para uma visita mesmo, sem celular, sem pressa, sem condições...Para uma visita, com afeto, com abraço, com ternura, com “ouvidos para ouvir” não “bocas para falar”?
Quantas vezes, você que foi levado a tantos lugares, perguntou a seus pais e seus avós para onde eles gostariam de ir, onde gostariam de passear, quem gostariam de visitar, isso mesmo, visitar.
Os avós tem amigos próximos e distantes, que gostariam de rever, de abraçar, de sentar-se ao lado e tomar um café, lembrando os tempos de juventude, de bonança.
Quantas vezes?
Quantas vezes você telefonou para seus pais, e avós de seus filhos e filhas, este ano, para perguntar se precisam de algo, se estão bem de saúde, ou...Somente para ouvir a voz deles e para que eles pudessem ouvir sua voz?
Quantas vezes disse a eles de seu amor, de sua vontade de estar junto, de sua vontade de abraçá-los?
Quantas vezes perguntou se gostariam de visitar uma livraria, tomarem uma cerveja na esquina, sentarem-se no banco da praça para ver a banda tocar, sim, para, simplesmente, ver a banda tocar?
Quantas vezes agradeceu por sua formação e, por extensão, pela formação de seus filhos e filhas?
Quantas vezes compreendeu as dificuldades por que passaram, e as vicissitudes que enfrentaram, para trazê-los até aqui?
Quanta santa hipocrisia!
Fácil parar todos os dias o carro na porta e deixar as crianças para os cuidados dos avós. Fácil desfrutarem agora, do resultado do trabalho dos pais e dos avós.
Fácil dizer-se cristão!
Difícil reconhecer-se pecador, aceitar-se pecador, compreendendo, assim, ao outro, e amando ao outro.
Difícil exercer a verdadeira bondade, a verdadeira solidariedade, a verdadeira generosidade para com todos que nos precederam.
Eu disse com todos!
E isto, meus amigos, só conseguiremos se sairmos de nós mesmos, se olharmos para o outro com empatia, de forma bondosa, se tivermos ouvidos de ouvir e bocas de calar.
Todos tiveram alguma atuação na construção do que somos hoje. Todos participaram, mesmo que seja só com um tijolinho, da construção dos Seres Humanos que dizemos ser.
Fácil sermos hipócritas, difícil sermos gratos!
Não deixe o tempo passar, faça agora, mude agora, sinta agora, fale agora, abrace agora.
Quer viver seus pais, avós e bisavós, viva-os o agora, não deixe para depois. Depois é muito longe...