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Publicado: Sexta-feira, 13 de abril de 2012

Dignidade em pérolas

Crédito: Banco de Imagens Dignidade em pérolas
A dignidade reluz a pérola que brilha em mim...

A pérola nasce da dor. A concha da ostra se abre a cada ano, recebendo as lágrimas prateadas da lua, que magicamente se transformam em um tesouro brilhante. A dor muitas vezes tira a dignidade de uma pessoa. Mas a pérola vem para lembrar que é possível transformar dor em beleza. O reencontro com a própria dignidade acende o pulsar da vida dentro do corpo novamente.

Em busca da minha pérola, me deparei com essa dignidade. Escondida por vergonha ou medo, ela sorria acanhada querendo se mostrar. Em alguns momentos brilhava como estrela, e iluminava tudo dentro e fora de mim. Parece até que o universo ficava mais feliz. Mas tinha horas que ela se derramava no escuro da minha noite, e não encontrava nenhum atalho para visitar.

Que dignidade é essa que aprendi a sentir quando criança, no espelho amoroso do olhar. E que dignidade é essa que escorregou de meus dedos nos momentos em que meu tamanho pequenino não alcançava o ser que eu era.

Ser digno é tarefa para mais de uma vida. É conquista de tal magnitude que chega a doer de alegria o coração. É a dignidade que dá coragem para abrir o peito, levantar o olhar, rodopiar os braços. Com dignidade, o caminho da vida se faz macio como as nuvens e firme como a terra.

Não há como passar pela vida sem ter a dignidade arranhada em dor. São tantas as redes que rompem, as palavras que cortam, os gestos que golpeiam. Cada vez que nossa dignidade é ferida, nossa pérola  se esconde no mais fundo do mar. Perdemos a confiança no brilho, esquecemos o tesouro, ancoramos o sonho, deixamos de navegar.

Mas... eis que algo acontece e lembramos que – sim – nossa dignidade está viva! Ela pode ter sido machucada, estrangulada, arrastada... e no entanto, apesar da poeira do adormecimento, ela canta inteira em nós quando simplesmente conectamos!

Na negritude do esquecimento, surge uma voz que brilha e diz: você é um ser único e especial. Ninguém em todo o universo é como você. Não desista de ser. Não desista!

Neste fugaz instante em que me conecto comigo e com o todo, percebo que meus cacos de vidro se transformam milagrosamente em cristais, formando uma imagem inteira e única, como um vibrante caleidoscópio. É a minha história perfumada com todas as cores, sabores e dissabores que se abre em flor e me abraça num carinhoso despertar.

Eu sou. Eu posso.  A dignidade reluz a pérola que brilha em mim, e eu danço essa luz, para nunca mais me esquecer...

(texto nascido após um dia de dança com Nanni Kloke, Suíte Circular “A Canção da Pérola”)

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