Digressão
Olha que coisa curiosa.
Na atividade de quase meio século de crônicas religiosamente semanais, ininterruptas mesmo, nunca me demorei em considerar o extenso significado dessa palavra - digressão. Um tanto vasto, abrangente.
E esse vocábulo, - aí a curiosidade, - anda perto do que seja hábito dos cronistas propriamente ditos, o de vaguear soltos, com displicência às vezes, mas com integral consciência e algum arrojo.
Tal lembrança enfim só se deu a partir do instante em que, ao computador, saí em busca para o assunto destes próximos dias e fixei o título logo ali até sem muita reflexão. Aí despertei. O que no fundo seria uma digressão?
O instantâneo da ideia confirmou essa parecença.
Vai lá então.
Ah. Sim, claro que me lembro dos bons tempos em que as crônicas eram redigidas em escritos à mão; nem datilografadas eram. Só com o decorrer dos trabalhos é que vim ceder às facilidades da máquina de escrever.
Sem dúvida. A Olivetti elétrica, não silenciosa e de carro longo, compunha por isso textos ruidosos por mais intimistas que fossem, destinados a que preferentemente pudessem ser lidos num possível silêncio. Modo correto de sorver qualquer crônica.
Sobreveio o computador. Esse foi mais implacável. Relutei, relutei, mas acabei dor capitular perante o óbvio. Mais prático. Objetivo. Executa e apronta a um só tempo.
A preleção parece que vai sair mais extensa do o próprio tema. Sim, deliciosamente, porque fora de casa, com um papel em branco na frente, fui vencido de novo a esse impulso de escrever de próprio punho. Hoje, pois, um trabalho precedido de rascunho, expediente de pouco uso a este estilo de jornalismo.
Mas, desconfio dos leitores, hoje, que por si mesmos, também desconfiem...
Desconfiem de que?
De que, várias vezes, caio, como agora, num ardiloso ramerrão. Contemplar episódios de novo, mas em linguagem outra. O mesmo assunto, certo? Quão atraente é este recurso de volta ao passado.
Neste caso, aos que sabem e aos que não sabem, é bem a hora de revelar ainda que essa fatia de enfoques relembrados se torna deveras prazerosa, principalmente para aqueles autores comprometidos em se fazer presentes a cada sete dias, com que o total de preleções sobe no mínimo à casa de cinquenta e duas no ano, se mais não for.
Estaria o leitor comigo até este ponto? Se sim, agradeço a pertinácia, aliás, seja usada palavra mais direta – paciência!
Certo dia, e terá sido numa ocasião que abarca as crônicas tecidas no triênio de 2012 a 2014, que a uma delas se pespegou o titulo de “Devagar ou Divagar”.
No meio do povo, que tem lá sua sabedoria, diriam “conversa mole para boi dormir”.
Começa, no entanto, que aqui se considera os leitores acima de tudo como amigos, quando não até de irmãos, de tão chegados e identificados. Aquilo que também no mais comum dos papos de esquinas ou nas rodinhas de aposentados se denomina “conversa para se jogar fora”.
Mas não façam isso. Recolham os cacos que talvez, quem sabe, de repente, pode ser, sei lá, formem um vaso inteiro. E não tenham medo, porque existem vasos preciosos e vasos nem tanto.
De qualquer modo, você e eu, fomos para lá e para cá sem sair do mesmo lugar.
Grato pela companhia.
Eu volto.