Dom Amaury Castanho - Epílogo: A Herança
Agora que Dom Amaury está na morada eterna, fica a pergunta: o que me resta? Qual a herança deixada para mim por esse pai espiritual? Ele me deixou um relógio, para lembrar de nunca desperdiçar o tempo com outras coisas que não o cumprimento da vontade de Deus. Deixou-me sua máquina de escrever, para que não me esquecesse de continuar proclamando as maravilhas do Senhor através da imprensa. Deixou-me um grande quadro, com uma bela foto sua, para manter sua imagem de pastor incansável sempre viva na minha memória. Entretanto, Dom Amaury me deixou uma herança maior que tudo isso.
Não foi fácil, para quem teve a vida que eu tive, tendo saído de onde saí e passado pelo que passei, chegar onde estou agora. Creio que o grande mérito de tudo deve ser dado a Deus, que me deu oportunidades e inteligência para aproveitá-las. Além disso, o Senhor colocou no meu caminho muitas pessoas, anjos em forma de amigos e amigas, que me consolaram e ajudaram sempre que necessitei.
A grande herança que Dom Amaury me deixou foi a responsabilidade de tentar retribuir à altura a confiança que tinha em mim. Antes mesmo que eu soubesse do que era ou não capaz em termos profissionais, ele já tinha suas esperanças a meu respeito. Fico com aquela sensação de que devo continuar a sua obra, utilizando todos os recursos possíveis dos Meios de Comunicação Social para fins evangelizadores.
Dá um grande frio na barriga ler um trecho do “Diário de Um Bispo Emérito”, no qual Dom Amaury afirma a meu respeito: “Ficamos muito amigos. Ele é dedicado, competente, serviçal, jornalista qualificado e católico praticante... O Salathiel está preparado para substituir-me em tudo que se refira aos Meios de Comunicação Social... Terá um belo futuro e eu terei parte nisso” (página 14). Vindo de qualquer outro, seria um comentário comum. Mas partindo dele, a responsabilidade pesa sobre os ombros.
Guardarei como herança as memórias dos dias que convivemos e as lições que dele aprendi. Como lhe prometi ainda em vida, prosseguirei como ele, proclamando as verdades do Reino de Deus “oportuna e inoportunamente”. Sem a ambição de querer superar seus feitos, continuarei na linha do trabalho dedicado à Igreja. Sem nunca deixar de usar meus dotes jornalísticos para evangelizar, procurarei dedicar-me com o mesmo afinco de sempre.
Enquanto Deus permitir, este indigno jornalista, frágil ovelha de um numeroso rebanho, pretende continuar com seus artigos, suas fotos e reportagens, seus jornais paroquiais e assessorias, nunca pensando apenas no lado material que a sobrevivência nos obriga para ganhar a vida aqui embaixo, mas sobretudo para ganhar a vida eterna prometida por Deus aos que se dedicam à levar a Boa Notícia aos homens.
Não posso renegar essa herança que me foi deixada por Dom Amaury. Não posso, em hipótese alguma, abandonar o jornalismo católico e ir vender meu tempo e trabalho para o que seja. Creio que isso não interessaria a Deus e à Igreja. A mim, sei que não interessa. Sou águia pequena ainda. Tenho muitos vôos para voar, cada vez mais altos. Até que chegue o meu próprio dia de não mais voar e receber a minha parte na herança celeste, concedida aos que combateram o “bom combate”.
A melhor herança não é aquela formada por dinheiro, jóias, carros e outros bens materiais. A melhor herança é saber que certos sentimentos permanecem vivos, mesmo quando as pessoas morrem. É saber que eu aqui nesta terra e Dom Amaury lá no céu, permanecemos unidos nos mesmos ideais e em comunhão com Deus. É saber que tenho de onde tirar forças nas tribulações e que estou capacitado para superá-las. É saber que a morte, afinal, jamais será vitoriosa, porque depois desta sempre virá a ressurreição, trazida por Cristo aos que são dele.
Amém.