Dom Enrico Angelo Crippa - - (In Memoriam)
Porque bons padres existem, mas nem sempre são lembrados.
Começamos a vislumbrar o fim deste ano que, na minha lembrança, ficará marcado tanto pela alegria das comemorações em torno do Jubileu de Ouro da Diocese de Jundiaí quanto pela tristeza da perda dolorosa de tantos padres, diáconos e leigos queridos. Na minha já não tão curta história, não me recordo de um período de luto tão intenso quanto este.
Na manhã de 21 de outubro, os fiéis diocesanos, principalmente os de Jundiaí e Várzea Paulista, acordamos com a triste notícia do falecimento de Dom Enrico Angelo Crippa, OSBV, da ordem dos monges beneditinos valombrosianos. Já na casa dos 80 anos de idade, esse missionário italiano que tanto trabalhou, conviveu e se doou às famílias e ao serviço do sagrado, terminou sua jornada terrestre após um período de internações hospitalares por causa de complicações naturais, próprias da idade.
Dom Enrico era a humildade e a simplicidade em pessoa. Muito atencioso, ficou conhecido de todos o seu conselho para quase todas as ocasiões que se resumia numa palavra de incentivo: "Coragem!". Foi diretor espiritual do Seminário Diocesano por vários anos e nesse contexto é que o pude conhecer um pouco.
Embora atualmente muita gente não ligue para nada que é sagrado, até mesmo contando piadas e caricaturando a nossa fé católica, foi durante um atendimento de confissão que Dom Enrico me disse palavras que guardo até hoje no coração. Muitos não entendem e não aceitam a dinâmica do Sacramento da Penitência, da confissão diante de um sacerdote. Mas trata-se de uma das experiências mais profundas e ricas da nossa fé. Só quem experimenta de verdade e sem preconceitos pode testemunhar isso.
Certa feita, saí do meu quarto para tomar água na cozinha do Seminário. Quem encontro lá? Dom Enrico, comendo uma banana. Ficamos ali, batendo um papinho. Água e banana terminadas, senti um impulso e perguntei: "Dom Enrico, o senhor não pode me atender em confissão?". É claro que ele logo se dispôs, com a alegria de sempre.
Fomos até uma salinha e através desse homem pude experimentar a verdadeira Misericórdia Divina. A quem se deixasse achegar, Dom Enrico se tornava um pai, um mestre, um amigo. Um sacerdote exemplar sempre disposto a se entregar no serviço ao próximo. Enfim, para um vocacionado ao sacerdócio, um verdadeiro exemplo a almejar, ou seja, dá vontade de ser padre assim, do jeito que ele foi.
As palavras, os conselhos e as orientações de Dom Enrico para mim naquela tarde, serviram de grande incentivo. Foi um momento que nunca esqueci e que marcou a minha caminhada vocacional. Sei que ele rezava e torcia por mim, assim como fazia por tantos outros seminaristas que conheceu. Há algumas semanas, sabendo de sua enfermidade, tentei fazer-lhe visita. Não foi possível, mas rezei pelo seu restabelecimento. Sua missão aqui na Terra acabou e assim Deus o acolheu no Reino Celeste.
Tomei conhecimento de inúmeros testemunhos, de inúmeros fiéis, a respeito de Dom Enrico. Todos destacavam sua atenção e carinho, sua dedicação e entrega no ministério presbiteral. Ajudou e fez diferença, para melhor, na vida de muitos jovens, casais, enfermos, etc. Foi uma honra e um privilégio tê-lo em nossas vidas e agora contamos com a sua intercessão no céu.
Os perseguidores da Igreja insistem em difamá-la e não medem esforços para tal, principalmente criticando de forma injusta os sacerdotes católicos. Cria-se assim uma falsa imagem, uma fama inverídica. Bons sacerdotes existem, sim! Iguais a Dom Enrico temos muitos outros padres ótimos e dedicados, sinais do Amor de Deus entre nós! Acontece que nem sempre eles são lembrados ou tomados como exemplo. É a tal sina: para difamar há gente aos milhares; para reconhecer as virtudes, nem sempre há quem.
Os funerais de Dom Enrico aconteceram na Igreja Matriz da Paróquia Nossa Senhora do Montenegro, em Jundiaí, com grande fluxo de fiéis. Foi sepultado no dia seguinte, 22 de outubro, data na qual a Igreja celebra a festa de São João Paulo II. Assinatura de Deus: foi o Papa João Paulo II quem ordenou sacerdote a Dom Enrico, no dia 2 de julho de 1980, durante missa no Aterro do Flamengo, no Rio de Janeiro (RJ), durante a sua primeira visita ao Brasil.
Dom Enrico já deixa muita saudade, porque saudade é o amor que fica. Ninguém morre de verdade enquanto for lembrado em nossas preces e recordações. Muito obrigado, Dom Enrico, por tudo. Um dia nos reencontraremos no céu!
Amém.