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Publicado: Segunda-feira, 8 de agosto de 2005

Dos Relacionamentos e das Relações

Quando falamos em relacionamento, estamos, na realidade, falando de troca, de parceria, de crescimento. Não dá para pensarmos em qualquer relação entre duas pessoas, do mesmo sexo ou não, sem que um esteja preocupado com o bem estar do outro, sem que ambos estejam preocupados com a felicidade em seu sentido amplo, com aquela felicidade que transcende, que sai do “pensar em si mesmo” para encantar a alma do “outro”; aquela felicidade que afoga, que causa falta de ar.

E quando falamos de relacionamento humano, estamos falando de um relacionamento entre dois seres que foram dotados de algo especial, da capacidade de raciocínio que lhes permite criar, inovar, refletir, mudar. Estamos falando do único ser no universo conhecido por nós, dotado da capacidade de alterar o rumo da História, da própria e dos semelhantes, principalmente daqueles que compartilham com ele o mesmo espaço no dia a dia.

Estamos falando de amor.

Aos poucos, com as descobertas que estão sendo feitas sobre o funcionamento de nosso cérebro, passamos a compreender melhor nossa atuação em Sociedade, como seres interdependentes, que necessitam do relacionamento para serem felizes, para poderem conhecer a si próprios.

A área das emoções é a principal fonte de pesquisa hoje, pois rege o comportamento do ser humano e suas reações em relação às mais diferentes situações.

Quando, no século passado, Freud mostrou ao mundo a existência de uma vida interior, que interage com a exterior, moldando nosso relacionamento com tudo que nos cerca, pessoas, objetos, plantas, árvores, céu, na realidade abriu para nós a porta da consciência, mostrando que vivemos aquilo que somos psiquicamente, que somos os donos de nossa felicidade, que somos os responsáveis por nossos destinos.

Muitos outros, em sua época, final do Século XIX e primeira metade do Século XX, também deram sua contribuição para o desenvolvimento do pensamento psicanalítico — que se dedica ao conhecimento da mente humana e de seu relacionamento com o meio ambiente, com o objetivo de organizar sua ação e, assim, proporcionar a sanidade ao ser humano — ora apoiando o pensamento freudiano, ora discordando, como foi o caso de Alfred Adler.

Porém, um traço marcante na Psicanálise daquele período foi a dedicação ao estudo do sexo, e da vida sexual, do ser humano, que Freud havia trazido à luz.

Melanie Klein, psicanalista austríaca, uma das grandes responsáveis pelo desenvolvimento da escola psicanalítica na Inglaterra, onde completei meus estudos psicanalíticos e, por três anos, pude realizar pesquisas nesta área e na de comunicação, dedicou-se profundamente ao comportamento da criança em relação ao sexo e questionou o complexo de Èdipo, mostrando que o grande mestre, Freud, apenas deu início a um trabalho que iria ser continuado. Ela foi a primeira psicanalista a utilizar brinquedos na análise infantil.

Devemos lembrar que os recursos da época eram limitados e o acesso às informações era difícil (considerando-se, ainda, que era época de guerra), diferentemente do que acontece hoje, quando temos acesso a milhões de livros, à televisão, ao rádio e à internet, entre outros tantos meios de comunicação.

No Brasil, mais recentemente, seguindo uma tendência mundial de pesquisas nesta área do conhecimento humano, o Dr. Norberto Keppe, um Psicanalista brasileiro, com dupla cidadania, austríaca e brasileira, que fez estágio com os maiores nomes da corrente psicanalítica de Viena, cidade de Freud, desenvolveu, no Hospital das Clínicas de São Paulo, a Psicanálise Integral, mais tarde batizada de Trilogia Analítica, mostrando, em mais de trinta livros publicados no Brasil e no exterior, inclusive na Rússia, que o ser humano é constituído de Pensamento(filosofia de vida), Espiritualidade (sua crença) e Ação (aquilo que pratica em seu dia a dia). A sanidade é o equilíbrio entre essas três áreas. Entendo que o afeto e o amor podem ser o ponto de equilíbrio da balança.

. Da vida sexual e do relacionamento

Os dados acima mostram, de forma sucinta, o desenvolvimento do pensamento psicanalítico no Mundo e sua influência na constituição da sociedade hodierna.

Ao observarmos esta influência vemos claramente que a questão sexual ainda é um tabu, que aterroriza a vida da maioria dos seres humanos, quer sejam ocidentais ou orientais. Por um lado, a liberalização total, uma Sociedade do “tudo pode”; no outro extremo uma Sociedade de opressão a este aspecto importante da vida, uma Sociedade do “tudo é proibido”, uma Sociedade da castração ao afeto — existem países que criaram polícias especiais para vigiar esta área e para punir, inclusive com a morte, homens e, principalmente mulheres, que ousam demonstrar afeto em público.

Para onde ir?

Para a felicidade, para uma vida de equilíbrio, que proporcione ao ser humano a alegria de ser, a alegria de sentir, a alegria de realizar, a alegria de ver resultados.

Como a cultura é uma coisa ainda cara no Brasil, como o conhecimento só agora vai se espalhando e ficando mais à disposição da Sociedade, ainda é difícil o acesso ao moderno pensamento. Por outro lado, grande parte dos profissionais da área psíquica, depois de formados, não acham que seja necessário estar em constante aprendizado, participando de cursos, de seminários, palestras, de sessões de psicoterapia, ficando, assim, sem condições de acompanhar a vida do paciente. Não compreendem que a formação é apenas o começo.

Com isso continuam, ainda, a valorizar o complexo de Édipo, que a Melanie Klein questionou há mais de meio século. E, pior, muitos nem compreenderam bem a idéia de Freud sobre este assunto.

Com os mecanismos de informação e formação que temos à disposição, como falamos no início, se não estiver em constante contato com as mudanças, o profissional irá atrapalhar a vida dos pacientes, não ajudá-los. E isto é falta de humildade, pois o conhecimento se expande a cada instante e não há justificativa para não acompanhar esta expansão.

A vida sexual é como a vida no trabalho, na escola, em família, é uma coisa natural, que deve ser vivida naturalmente. Como nos outros setores de nossa existência, precisa ser vivida com afeto, com amor, com dedicação diária.

Você pode deixar de se dedicar ao trabalho, à escola, à família, aos amigos?

Não!

Da mesma forma não pode deixar de lado este aspecto de sua vida, não pode deixar de “adubar o relacionamento”, não pode esquecer das flores, não pode esquecer do afago, não pode esquecer das palavras “amor”, “benzi

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